Saudade de São Paulo

Imagens belas de São Paulo

São Paulo continua a metrópole insana da minha infância e juventude. O povo brasileiro segue simpático e prestativo. Os amigos são ainda mais queridos do que me lembro. E a família ainda mais essencial.

Após uma separação voluntária de três anos me vejo turista na minha terra natal. Saí do país há quatorze anos, mas nunca havia ficado tanto tempo sem visitá-lo. Só percebi quanta saudade eu carregava no peito quando cheguei. Saudade do abraço apertado, do sorriso aberto, da mão estendida, da vibração da cidade, e da comida brasileira, italiana, árabe, portuguesa, japonesa, enfim de todas as culinárias executadas à perfeição nos restaurantes da cidade.

Saudade é uma palavra exclusiva da nossa língua portuguesa, e as vezes por isso mesmo, parece que falando no meu idioma de nascimento, até o sentimento que a palavra exprime se torna mais agudo. E quando o saudosismo é agudo, os defeitos tornam-se aceitáveis, afinal não convivo com eles no dia-a-dia. O trânsito não incomoda tanto, e a poluição, que eu sei, continua terrível, parece não ser tão intensa quanto eu lembrava. É, parece que estou vendo a cidade com lentes cor-de-rosa mesmo. E não pretendo tirá-las, estou de férias e quero mais é desfrutar desta sensação boa, mesmo que imprecisa.

Portanto, apesar de São Paulo seguir insana, vou me ater ao carinho que recebo na casa dos amigos e familiares, e seguirei ignorando o caos ao meu redor.

A verdade sobre o protetor solar!

No hemisfério norte é verão (e, por incrível que pareça, no Brasil também), férias escolares e boa parte do continente está buscando – literalmente – um lugar ao sol.

Época de comprar o protetor solar favorito, aquele do reclame, que tem uma marca famosa e, se couber no orçamento, bem cara. Afinal de contas eles gastam milhões de dólares em desenvolvimento de produto e têm o melhor que o mercado pode oferecer, certo?

Usar protetor solar é essencial

Errado! A Stiftung Warentest testou, pelo terceiro ano consecutivo, e concluiu novamente que os protetores solares mais caros NÃO são os que oferecem melhor proteção contra o sol… dá pra acreditar?

Então vamos aos fatos: foram testados 20 produtos das mais variadas marcas. Este ano foram testados os protetores das marcas brancas das cadeias de supermercados de desconto e perfumarias alemães (Lidl, Müller, Rossmann, Schlecker, DM e ALDI), assim como marcas conhecidas e que por vezes são vendidas até exclusivamente em farmácias (Tiroler Nussöl, Biotherm, Nivea, Garnier, Lancaster, Yves Rocher, Vichy, Annemarie Börlind, La Roche Posay, Avon e Eco).

Foram avaliados, entre outros: proteção contra raios UVA, observância da quantidade de FPS, consistência, aplicação, sensação na pele, qualidade microbiológica, orientação para aplicação, dizeres da embalagem, comportamento à várias temperaturas. Para nós, consumidores, os dois primeiros fatores são os mais importantes. Afinal, por que compramos protetor solar? Portanto os produtos que tiveram nota insatisfatória nesses quesitos, já perderam pontos para o conceito final.

O resultado: os 6 produtos que oferecem melhor proteção contra o sol são realmente os das lojas de descontos Lidl, DM, Rossmann e Müller! Detalhe: os preços variam de meros 1,20 euros até 20,00 euros/100 ml. Produtos que, porque custam mais caro acredita-se que possuem qualidade superior, pontuaram com meros “satisfatório” ou “insuficiente” em um ou mais quesitos, Por favor…

A instituição que fez o teste também alertou para o que está escrito na embalagem. Coisas do tipo: proteção para o DNA, proteção infra violeta, sem parabeno, testado dermatologicamente, sem parafina, não são critérios de qualidade. Será que o fabricante não tem nada melhor para escrever sobre seu produto?

A semana passada mostrei o teste da água mineral, que concluiu que a água da torneira é mais saudável e confiável que a água de marca aqui na Alemanha. Outros testes mostraram que para cosméticos como creme hidratante, removedor de maquiagem e até alguns artigos de maquiagem também os “discounters” oferecem melhor qualidade.

O que isso quer dizer?

Do meu ponto de vista, significa que nem tudo o que é “de marca” é bom ou melhor. Que o consumidor se deixa iludir facilmente com as campanhas de publicidade e não presta a atenção devida ao que está comprando e consumindo. Principalmente no Brasil, marca ainda é associada a qualidade, se bem que meus anos trabalhando na indústria têxtil fizeram esse meu conceito cair por água abaixo. Vale a pena pesquisar, se informar. Eu já me surpreendi positivamente com as duas faces da moeda. Já comprei, sim, produtos sem marca que são uma porcaria e voltei ao original.

Portanto, consciência na hora de comprar!

Aplique o protetor generosamente. De acordo com especialistas, na realidade 250 ml de protetor deveria ser o suficiente para somente 3 dias para um adulto! Saia do sol nos horários de pico e, se puder, use chapéu e camiseta com FPS para se proteger, principalmente as crianças.

Agora que a você já sabe a verdade sobre os protetores solares, boas férias e um bom sol para você!!!

Boas férias!

Churrasco alemão: Tudo O Que Você Precisa Saber

Feriados, Eurocopa, verão, férias! Essa é a época ideal para falar sobre mais uma paixão que os alemães compartilham conosco: o churrasco ou grill, como eles chamam! Estando em outro país, outra cultura, outro clima, nota-se as diferenças entre o modo de preparo e os ingredientes usados aqui e no Brasil.

Para nós, brasileiros, e para eles qualquer motivo é motivo para “queimar um cebo”. A diferença é que o fato de podermos fazer-lo em qualquer época do ano, faz até ficar um pouco comum demais…

Churrasco é uma festa!

Na Alemanha teoricamente só é possível fazer churrasco de abril a setembro (quando dá sorte de não chover muito), o que faz o “Grill” ter um sabor especial. Exceção foi um Natal que tivemos “amenos” 12 graus e vizinhos nossos fizeram um churrasco de Natal!! Claro que comeram no aconchego de sua sala de jantar, mas só o fato de poder assar a carne ao ar livre já foi uma sensação! E eu nem tive essa idéia…

Bem, churrasco alemão tem que ter quatro componentes: salsicha, carne, salada e pão.

Salsicha existe de inúmeros tipos: de porco, de boi, de carneiro, de frango. Com ervas, sem ervas. Com queijo. Com pimentão. Crua. Defumada. E sempre há vários vidros de molho pronto para acompanhar (catchup, mostarda, alho, curry, e muitos outros). A minha preferida, contudo, continua sendo a linguiça tipo calabresa com erva-doce que encontro no supermercado italiano da cidade…

A carne de porco é a preferida, seguida de frango, boi e... legumes!

Carne é basicamente carne de porco, mas pode ser de frango, peru, peixe… Os steaks (bifes) e barriga de porco (enrolada no espetinho, nunca tive coragem de provar, mas dizem que é bom) são as preferidas DELES.

Os bifes são vendidos marinados nos supermercados ou açougues. Explicando: marinar significa misturar temperos e sal com um meio fluido e gorduroso e embeber a carne nessa mistura por alguns dias. No caso dos bifes de porco, frango e peru faz todo o sentido, pois são carnes que são difíceis de pegar tempero. Então é necessário temperar – e bem! Normalmente eles usam misturas de ervas, pimenta do reino, pó de pimentão… Ultimamente tem aparecido frango no tempero de curry que é até gostoso.

Alho nem pensar! Fato é que os alemães temem o odor que é produzido quando se come alho… Mas esse é outro assunto.

Acompanhamentos complementares são salada e pão. Salada é uma obsessão do povo aqui. Uma mania que eu até incorporei aos meus churrascos, porque são realmente práticas (podem ficar a tarde toda em cima da mesa, sem precisar esquentar) e fornecem um complemento saudável ao prato de carnes. Imprescindível é uma mesa com vários tipos de salada ou até um bufê, quando o evento é maior. Esqueçam as saladas de maionese que aparecem nesses eventos no Brasil. As de batata, macarrão, folhas, repolho, pepino e cenoura são as tradicionais por aqui e são temperadas com azeite, vinagre, ervas e sal, mas também com iogurte ou creme de leite (tipo creme fraisch). Há influências de outras cozinhas também: salada grega, caprese, mexicana com feijão e milho e asiática são feitas com os mais diversos legumes, frutas e folhas da estação.

Certa vez fiz um antepasto italiano de berinjela, abobrinha, pimentão temperados com cebola, alho e orégano, acompanhado de pão italiano, que me rendeu muitos elogios. Também tenho feito legumes e frutas na grelha, como os argentinos fazem. Novidade mesmo foi o abacaxi na grelha. Eles adoraram!

As festas de fim de ano ou de verão são os eventos que mais acontecem de junho a setembro: da escola, da escola de música, do esporte, do trabalho do pai, do trabalho da mãe… Você não vai encontrar ninguém que não tenha pelo menos três para ir!

Os organizadores pedem que cada um traga uma salada ou sobremesa para o buffet, seus próprios copos, pratos e talheres. No começo isso me causava estranheza. Foi-me explicado que é para diminuir a quantidade de lixo gerada pelos copos e utensílios de plástico e, claro, porque não tem ninguém que vai ficar para lavar a louça… Se vocês soubessem a quantidade de churrascos que acontecem nesses poucos meses, iriam concordar!

Em algumas festas a carne é vendida/servida pelo organizador. Porém há festas em que cada um precisa levar até sua própria carne, além das coisas mencionadas acima! Detalhe: o que você leva, você come. Nada de fisgar a linguiça do vizinho, não…

As carnes são assadas em conjunto na grelha

Há uma grande grelha redonda onde todos colocam seus pertences para assar. Já presenciei casos que os comensais colocam uma travessa de alumínio com furos em cima da grelha e a carne por cima da travessa, ao invés de colocar a carne direto na grelha (quem faz e aprecia um bom churrasco deve estar se contorcendo nesse momento….).

Porém quando fazemos churrasco em casa, fazemos do “nosso” jeito. Carne sul-americana não pode faltar, assim como a linguiça italiana, a farofa baiana e um arroz branco à moda brasileira. Eu já vi alemão “gemer sem sentir dor” com nossa carne temperada somente no sal grosso, preparada pelo meu marido, que é um churrasqueiro de mão cheia! Hummmm, já estou até com água na boca.

Churrasco a moda brasileira: frango no alho e linguiça merguês!

Aqui é natural se distribuir tarefas. Dificilmente há um evento em que não se tenha que levar nada, mesmo nos aniversários eles sempre oferecem uma contribuição. Esse é outro hábito que incorporei. Entre os brasileiros também já é assim, cada um traz uma salada, bebida ou sobremesa e no fim temos tudo que precisamos para um maravilhoso dia em conjunto.

Uma última informação útil: no mês de maio a “German Barbecue Association” promove o campeonato de churrasco! Eu nunca tinha ouvido falar disso no Brasil! O evento elege o Campeão Alemão de Churrasco do ano, título importantíssimo, não? É um evento para homens, onde só preocupa-se com a carne, como nos tempos das cavernas, como certa vez ouvi de um amigo vegetariano…

Curioso é que cheguei à conclusão de que fazer churrasco é coisa de homem mesmo. Churrasqueiro não pode se distrair (nem com a cerveja!) ou ficar batendo papo enquanto a carne está na grelha. Imagine a dificuldade para a mulherada tomar uma cervejinha, relatar sobre um milhão de coisas ao mesmo tempo e ainda ter que cuidar para a carne não queimar? É melhor preparar a salada antes…

Agora que você já sabe (quase) tudo sobre o grill alemão, desejo-lhe uma maravilhosa “Grillsaison”!

Feliz Dia dos Pais ao Meu Marido

Presente especial para o papai.

Hoje é dia dos pais aqui nos Estados Unidos. E como o dia dos pais no Brasil é só em agosto, neste dia eu penso somente no meu marido, que é um paizão para as minhas filhas.

Como expatriados, não temos família por perto, se temos uma crise só podemos contar um com o outro, e isso nos aproximou ainda mais. Ser pai e mãe quando não se tem apoio extra, é o exercício mais altruísta que qualquer pessoa pode realizar, e eu tenho sorte de ter o Flavio ao meu lado nessa batalha diária.

Quantas vezes não precisei ligar para ele no escritório em situações de emergência e ele largou tudo e saiu correndo para me ajudar? Inúmeras. Quem é que me levava ao médico durante a gravidez, quando eu, com um barrigão enorme, já não dava conta de dirigir? Ele. Se eu tenho algum problema de saúde, quem segura as pontas da casa? Ele. Se rola alguma emergência com uma das meninas, e eu tenho que sair correndo para levá-la ao médico, quem pega a outra na escola enquanto segue em conferência pelo celular? Ele. Não tem vovó, vovô, empregada ou babá, aqui somos nós que seguramos todas as pontas. E por todos os desafios que já encaramos juntos, eu posso dizer com total convicção, que me casei com um homem maravilhoso, forte, seguro, sério, e presente.

Com um pai desses para minhas filhas, ser mãe fica bem mais fácil, pelo menos quando ele não está viajando, mas esta já é outra estória.

Boas Maneiras São Apreciadas em Qualquer Lugar

Ontem vivi uma situação chata, e hoje, passado o primeiro impacto, guardo comigo a sensação positiva do desfecho.

Fui ao supermercado com minha filha para comprar algumas guloseimas ​​para um chá da tarde. Tínhamos apenas quatro itens do carrinho: uma baguete, uma caixa de blueberries, um pão doce de ricota e um de maçã. Não havia ninguém na fila quando eu coloquei meus artigos sobre a esteira, e a moça do caixa puxou conversa, como de costume.

– Como vai? Está tendo um bom dia?

Eu respondi:

– Sim, obrigado. E você?

Ela sorriu e disse que estava bem. Eu gosto dessas trocas cordiais. Agradeço a atenção, e sempre devolvo a gentileza.

Passei o meu cartão de crédito e comecei a seguir as instruções da tela para pagar a minha compra, quando notei que a moça do caixa olhava preocupada para a minha filha, que havia ficado um pouco para trás, folheando as revistas que eles sempre colocam acima da correia transportadora.

–       Ele foi rude, mas você se portou bem.

A caixa disse à minha filha.

Quando eu terminei de pagar e olhei para minha filha, seus olhos estavam marejados.

–       O que houve filha?

Eu perguntei preocupada.

–       Aquele homem atrás de mim bateu a barra de separação no balcão e gritou comigo. Porque ele queria colocar suas coisas na esteira e eu estava no caminho, folheando uma revista.

Eu achei a estória tão improvável que pensei ser exagero de adolescente, mas olhei para a moça do caixa, que confirmou com a cabeça. No tempo que eu levei para pagar a minha pequena compra, com certeza menos de dois minutos, um homem de cabelos brancos, ou seja, pela maturidade aparente já deveria ter aprendido a ser educado, conseguiu fazer minha filha chorar.

–       Você disse algo a ele?

–       Eu não disse nada não, mãe, vamos embora por favor.

–       Mas eu não ouvi nenhum grito?

–       É que ele chegou bem perto do meu ouvido para falar. E eu levei um susto mãe, está tudo bem, eu só quero ir embora.

Ela me respondeu enquanto secava um lágrima teimosa.

Não à rudeza!

O fulano se aproximou de uma criança lendo distraída, para dispensar grosseria, porque não podia esperar um minuto sequer para começar a descarregar o carrinho.

Aquela foi a gota d’água, eu cruzei os braços e olhei para o homem ostentando a minha melhor expressão de “não mexa com a minha filha”. Olhei para o meu relógio, e comecei a contar um minuto encarando o indivíduo. A moça do caixa imediatamente seguiu minha liderança, cruzou os braços e se pôs a encará-lo também, com um olhar tipo: “O que um velho como você, pensa que está fazendo ao tratar uma criança assim?”

Ele baixou os olhos imediatamente e não se atreveu a tirá-los do chão durante todo o minuto que marquei no relógio. Dei uma última medida de cima abaixo na figura, peguei a mão da minha filha e sai andando como se nada tivesse acontecido.

Aquela moça do caixa foi gentilíssima e atenta. Enquanto eu estava distraída pagando a conta ela ficou de olho na minha filha e a apoiou. Foi questão de segundos, mas jamais esquecerei a solidariedade daquela mulher naquele momento.

Boa educação abre portas, grosserias fecham!

E com relação aos gritões, e outros rudes que estão sempre impacientes querendo atropelar os outros, por favor peguem leve, ao contrário do que se diz, o mundo não foi feito em sete dias.

Boas maneiras são importantes em qualquer lugar do mundo, ser gentil e bem educado abre portas, grosserias fecham.

 

Católicos nos Estados Unidos

Do que você abriu mão nesta Quaresma? Esta pergunta me pegou de surpresa. Sou brasileira e quando me perguntam qual minha religião respondo automaticamente que sou católica. Mas a verdade é que sou católica por tradição, não por exercício rigoroso da religião.

No Brasil 130 milhões de pessoas são católicas, ou seja, mais de 68% da população se declara católica, o que faz do Brasil a maior comunidade Católica Apostólica Romana do mundo. No entanto sociólogos especializados em religião veem o catolicismo no Brasil mais como tradição do que prática religiosa propriamente. Apesar de ser comum para brasileiros batizarem seus filhos e casarem-se na igreja católica, apenas 20% frequentam as missas, fazem confissão e participam das atividades da igreja. Portanto, o Brasil tem também o maior número de católicos culturais no mundo, este é o termo que a igreja usa para identificar católicos que só participam de missas em ocasiões especiais, como Natal, Páscoa, casamentos, funerais e missas de sétimo dia.

Os Estados Unidos tem o maior número de grupos religiosos do mundo, mas a maior parte dos americanos se identificam como cristãos, na sua maioria protestantes e católicos, representando respectivamente 51% e 21% da população. As religiões não cristãs (judaísmo, islamismo, budismo, hinduísmo, etc.) representam entre 3,9% a 5,5% da população americana adulta, e 15% dos americanos dizem não ter crenças ou afiliações religiosas. De acordo com uma pesquisa de identificação religiosa, entre os estados americanos que fazem parte do “Unchurched Belt” (cinturão sem igrejas) região mais a oeste do país onde a participação religiosa é baixa, 59% da população diz acreditar em Deus, já no “Bible Belt” (cinturão da bíblia) que compreende os estados do sul dos Estados Unidos, 86% da população acredita em Deus.

O protestantes americanos estão distribuídos em várias afiliações distintas, o que faz do catolicismo a maior denominação religiosa dos Estados Unidos. De acordo com um estudo de 2011 do Centro de Pesquisas Aplicadas da Universidade Apostólica de Georgetown, existem hoje 77.7 milhões de católicos nos Estados Unidos. Portanto o país é o quarto colocado em número de católicos no mundo atrás do Brasil, do México e das Filipinas.

Aqui onde eu moro na Geórgia (estado ao sul do país que faz parte do Bible Belt) posso dizer, sem correr o risco de exagerar, que temos uma igreja a cada três quarteirões. E são de todas as religiões e denominações possíveis. Temos igrejas católicas coreanas, hispânicas, chinesas, brasileiras, e etc., templos mórmons, budistas, hindus e etc., sinagogas, mesquitas, enfim não importa sua religião você encontrará alguém da sua tribo aqui, e todos coabitam. Algumas ruas chegam a ter uma igreja ou templo distinto em cada quarteirão, juro que não estou exagerando. O único lugar no Brasil onde eu vi tantas igrejas assim foi em Salvador, na Bahia.

Descobri portanto que sou uma católica cultural, vivendo entre pessoas que levam suas religiões muito a sério.

No Brasil a maioria de nós, católicos culturais, somente abrimos mão de algo na Sexta-Feira Santa, e substituímos este algo, a carne, por peixes e frutos do mar, o que no fim das contas não implica em sacrifício nenhum, a não ser que você seja alérgico. Claro que não estou falando do simbolismo do corpo de Cristo (Pois é, eu conheço bem a retórica da igreja católica, pois estudei em colégio de freiras onde tive aulas diárias de religião até a oitava série.), mas do sacrifício pessoal, que o bacalhau não cobre.

Aqui os católicos escolhem algo pessoal e significativo para deixar de consumir ou fazer, desde a Quarta-Feira de Cinzas até o Domingo de Páscoa, quando então se reúnem para fartas refeições sendo o presunto defumado, que chamamos de tender no Brasil, a atração principal. Eles também evitam consumir carne, não apenas na Sexta-Feira Santa, mas todas a sextas-feiras da quaresma, e as escolas oferecem cardápios especiais aos católicos durante a quaresma respeitando esta tradição.

Vivendo aqui eu passei a observar o catolicismo sendo praticado de outra maneira, muito mais conservadora que a minha. E notei como isso afeta a política americana de forma questionável, pois acredito em separação entre estado e religião, e sou a favor do planejamento familiar, entre outras coisas. Mas voltando a questão que inspirou este post, quando me perguntaram qual meu grande sacrifício da quaresma, sem saber o que responder, simplesmente disse:

– Meu marido viaja a trabalho 40% do ano. Isto conta?

A minha nova amiga catoliquíssima disse que sim. Ufa! Estou salva! Ah, hoje aqui em casa é dia de bacalhau, e o meu marido está viajando a trabalho.

Pedágio para andar na rua? Eu não pago!!!!

No jornal de ontem fomos surpreendidos com uma terrível notícia: pedestres e ciclistas terão que pagar pedágio para circular no centro de Worms!!!

O que é isso, gente? Há tempos vêm se discutindo uma solução para o problema do caixa da prefeitura, onde – dizem – não há mais nem um centavo. Pra piorar, a dívida municipal alcançou níveis estratosféricos por causa da crise financeira e agora toda e qualquer fonte de renda será usada. Agrade ou não. Seja democrática ou não.

E os queridos “representantes do povo” resolveram o problema à moda brasileira: da noite para o dia criaram uma lei que faz surgir uma nova forma de arrecadação inspirada nos recentes tempos da idade média, quando as pessoas pagavam para circular pelas cidades. Dá pra crer numa coisa dessas? Afinal, se os carros já pagam imposto, por que não cobrar agora dos pedestres, não é mesmo?

Em todos os acessos ao centro de Worms estão sendo colocados guaritas com vigias, que cobrarão dos despreocupados a módica quantia de 1,00 euro para quem estiver a pé e 2,00 euros para quem estiver sobre rodas!!!!  Ainda bem que eu não tenho NADA a fazer no centro!!! Logo eu, que sou mão-de-vaca? –  diria meu marido. Literalmente agora é que eu pago pra não ir no centro.

As pessoas que passavam ontem pelo centro e observaram a colocação da guarita levaram um susto! Parecia que estavam vendo um filme… de terror! Como poderia ser uma coisa dessas? Quem deixou? Cadê a assinatura, p…?

Bem, depois de ler uma matéria de primeira página com título em letras garrafais sobre o horror de se pagar para andar, sobre onde seriam colocadas as guaritas, a área onde vale o pedágio e os horários em que seria cobrado E DE XINGAR MEIO MUNDO, o leitor era levado a outra página no fim do jornal. Uma nota dizia que, sim, era uma pegadinha do jornal! Ontem, afinal, era 1. de abril! Quem quiser que conte outra! HAHAHAHAHAHA, depois dizem que os alemães não têm senso de humor!

Se você também achou o absurdo do aburdo e se irritou mesmo com a noticia, então eu também atingi meu objetivo… apesar de com um dia de atraso!

 

O que fazer com as coisas que não nos servem mais?

Todo mundo vive esse dilema um dia, alguns por falta de espaço outros porque querem que a energia circule melhor, enfim, há várias maneiras de solucionar o problema. A primeira é não acumular. Em São Paulo provavelmente seria essa a minha solução, pois nos apartamentos de hoje não há lugar pra se acumular nada!

Aqui na Alemanha é diferente: a existência de porão na maioria das casas faz com que a gente acumule, junte, guarde tudo. O que foi pensado para ser um depósito de mantimentos após a guerra acabou se tornando o lugar perfeito para se colecionar e esconder coisas. Todo tipo de coisas.

Pois bem, chegou um momento em que disse “eu preciso me livrar dessas coisas”! E resolvi me inscrever para participar de um bazar na escola evangélica do bairro onde moro, vulgo mercado de pulgas. A idéia era a de não só fazer espaço e diminuir a conteúdo para uma possível mudança de endereço e com isso ainda arrecadar um dinheirinho (aqui o senso de valor do dinheiro tem um outro significado que pra nós, mas isso é outra história), mas também de propiciar ao meu filho um contato mais direto com esses assuntos monetários da vida, afinal ele está aprendendo isso na escola.

E tive uma experiência inédita, após quase 9 anos de Alemanha. Selecionei umas coisas, encaixotei, botei no carro e levei ao local do bazar. Chegando lá, descarreguei o carro e comecei a arrumar minhas “quinquilharias” em cima de uma mesa larga, como as outras pessoas. Recordei meus tempos em que tinha loja, analisando o melhor lugar pra por as mercadorias, como melhor separá-las, dei uma “chupinhada” na concorrência… muito engraçado. Também passei a conhecer outras pessoas do bairro, por exemplo a mãe de um colega do meu filho do futebol que tinha a banca dela em frente a minha…

O bazar ainda não tinha aberto ao público e algumas pessoas ainda estavam arrumando suas bancas quando eu comecei a observar meus arredores. Gente trazendo todo tipo de coisas de criança, algumas quase novas e outras nem tanto, modernas e antigas, e eu olhando aquilo e imaginando como seria a vida daquela pessoa, o que ela teria em casa, coisas desse tipo.

A sensação que tive foi inesperada e desconfortável. A impressão que eu tive é que toda aquela gente estava na minha casa, abrindo meu armário e bisbilhotando em minhas gavetas, coisa que nem a mais despojada anfitriã gostaria. Foi quando começaram a vir os primeiros compradores. Uma negociação aqui, outra ali, e de repente havia tanta gente no salão comprando que por mais de uma hora nem vi o tempo passar.

Depois disso, com mais da metade das coisas vendidas e algum dinheiro no bolso, percebi que idéia de ser “espionada” não me incomodava mais. Os alemães não tem vergonha disso, como nós latinos. Lá havia gente de todas as classes sociais comprando e vendendo seus badulaques, num clima perfeitamente normal. Afinal, por que jogar fora nossas coisas ao invés de repassá-la pra frente, para serem usadas por mais alguns anos? Eu mesma já havia comprado algumas coisas no bazar e nunca me arrependi.

Voltei pra casa com uma sensação muito boa. Eu me diverti fazendo aquilo. E estou pronta e mais afiada para o próximo. Meu porão está longe de estar no nível que eu gostaria…

Carnaval

Hoje estou oficialmente inaugurando o blog (de minha parte) e quero aproveitar pra falar do Carnaval, já que estamos em pleno feriado no Brasil. Sim, no Brasil, porque aqui não é feriado, não! Nem um mísero dia, nem na terça-feira! Foi a primeira coisa que me chocou em se tratando de Carnaval aqui. Só as escolas primárias e secundárias não funcionam, mas os trabalhadores que querem folga têm que tirar o dia de férias!

Na região onde vivo Carnaval é bem tradicional. Os das cidades de Colônia e Mainz são os maiores e mais famosos do Estado, com desfiles (aqui se fala “Umzug”, que quer dizer mudança, como na Bahia) na segunda-feira de carnaval que reúnem uma multidão de foliões vindos de vários outros Estados, dispostos a festejar o dia todo, a noite toda…

No sábado, domingo e terça-feira acontecem os eventos menores, nas vilas e pequenas cidades como a minha, onde as comunidades se organizam e o carnaval acontece com o desfile de vários blocos compostos pela associação desportiva, a escolinha, a juventude católica, o pessoal da velha guarda, etc. Os foliões acompanham um caminhãozinho, um trator, uma perua todo enfeitados e do alto se jogam doces (pipoca, chocolate, por exemplo) para as pessoas que aglomeram-se nas calçadas.

Eu acho muito impressionante o carnaval daqui. Há as associações carnavalescas, que iniciam os trabalhos de preparação no dia 11.11 do ano interior, as pessoas se inscrevem nas mudanças, preparam as fantasias, ensaiam… semelhante, não? O clima de alegria é muito parecido com o nosso. As pessoas aguardam esses dias para extravasar e fazer coisas que só se fazem nesses dias…

E me admiro que saia um carnaval que traz tanta diversão, tanta folia, numa cultura cujo ponto forte não seja sua alegria, descontração e criatividade. Principalmente porque falta uma coisa… um pequeno detalhe chamado MÚSICA. As mudanças a que já assisti eram acompanhadas por um aparelho portátil de som, que tocava a música brega daqui– chamada de Schlager – ou no máximo um bate-estaca da discoteca na tentativa de fazer o povo mexer as “cadeiras” pelo menos pelos poucos metros em que se ouve o som…

A conclusão a que chego é que há certos momentos em que se percebe fortemente a diferença entre o que é falar uma língua e pertencer ou crescer em uma cultura. Por mais que eu me esforce, que conviva com as pessoas, que faça amigos alemães, há um limite entre o que posso usufruir e o que não posso. Carnaval pertence a uma delas.

Claro que acompanho a festa, levo meu filho pra participar e acho até algumas músicas divertidas, mas nunca vou conseguir sentir a emoção de quando vejo o carnaval do Brasil, pela internet que seja. A energia é tão outra e a identidade cultural está mais presente do que normalmente. Ela nunca me deixa esquecer de onde eu vim, qual é minha raiz. E tenho muito orgulho dela. De verdade.

Um bom resto de carnaval para todos!

Beijos

Sandra