About Sandra Zumstein

Sandra nasceu em São Paulo. Após se formar em engenharia e trabalhar 8 anos na área comercial, em 2003 seu marido recebeu um project assigment de 2 anos na Alemanha. E então o que era para ser um período sabático acabou virando um projeto de vida. Os 2 anos viraram 3 e meio e, após 7 meses morando novamente em São Paulo, retornaram à Alemanha onde há 5 anos vivem em uma vila de 10 mil habitantes que pertence à cidade de Worms, ao sul de Frankfurt. Durante esse tempo houve inúmeras situações que merecem ser registradas aqui no HalloHello, acompanhem!

Spätzle

Atendendo a pedidos, hoje vou ensinar como se prepara o Spätzle (lê-se xpetsle, no português) ou Spätzel.

É uma massa usada principalmente no sul da Alemanha, Alsácia, Áustria e Suíça e é feita a partir de batata, ovos, farinha e sal. Eu costumo dizer que é o “nhoque” do alemão. Tradicionalmente é acompanhamento para pratos de carne que têm bastante molho, como o picadinho ou o strogonoff. A minha preferida e que faço em casa, no entanto, é o chamado “Käsespätzle” – o Spätzle com queijo, típico do sul da Alemanha.

O Spätzel com queijo e cebola frita é um dos pratos favoritos aqui em casa e muito fácil de fazer

Receita para 6 porções:

300 g de batatas para purê cozidas de véspera e espremidas no espremedor de batatas (como se fosse para purê)

6 ovos

300 g de farinha de trigo

1 colher de sopa de sal

nós moscada ralada

Junte todos os ingredientes e forme uma massa. Coloque uma panela grande com água salgada para ferver. “Rasgue” tiras da massa grudenta com uma faca ou mesmo com os dedos e coloque-as diretamente na água fervente, porém com o fogo mais baixo. Espere as tiras voltarem à superfície. Remova-as com uma escumadeira e deixe-as secar. Fazer esse procedimento com o restante.

Quem mora na Alemanha tem duas opções extras para facilitar o trabalho: comprar um utensílio chamado espremedor de Spätzle (é uma espécie de prato de metal com furos grandes para fazer a massa cair direto na água) ou comprar o produto pronto em qualquer supermercado…. 🙂

Para o preparo de 3-4 porções de Spätzle com queijo necessita-se:

500 g da massa Spätzle

1 colher de sopa de manteiga

150-200 g de queijo emental ralado (quanto mais queijo, mais “colante” fica)

cerca de 200 g de creme de leite fresco (o Sahne da Alemanha, quanto mais creme de leite, mais cremoso fica o molho)

salsinha

cebola frita (Röstzwiebel, que é inclusive originária da Dinamarca!)

Preparo:

Numa frigideira ou caçarola baixa derreta a manteiga. Coloque o Spätzle para refogar. Em seguida adicione o creme de leite, quando estiver bem quente adicione o queijo e mexa bem. A idéia é que fique um creme de queijo. Quando chegar a esse ponto, desligue o fogo e tempere com a salsinha e a cebola. Sirva em seguida.

Há uma variação que provei recentemente com presunto defumado refogado na manteiga e queijo gratinado por cima, ao invés de ser colocado na frigideira.

Há dois restaurantes que preparam esse prato de maneiras distintas, igualmente deliciosas, e que indico de olhos fechados:

– Restaurante Fass, em Bad Dürkheim: http://www.duerkheimer-fass.de/

– Restaurante Domhof, em Speyer: http://www.domhof.de/

Hummmm, bom apetite!

Geração perdida

Há alguns dias li uma notícia que me preocupou muito: a geração dos jovens europeus de hoje foi chamada de “geração perdida”. Esse termo foi associado principalmente aos jovens espanhóis, mas também a outros da Comunidade Europeia. Hoje 46% dos jovens abaixo dos 25 anos na Espanha está desempregado. O responsável por um estudo recente concluído para as Nações Unidas sobre desemprego entre jovens, vê com preocupação o futuro deles: a geração de hoje perdeu seus empregos e não os vão ter de volta nos próximos 4 a 5 anos. Isso significa que esses trabalhadores perderão sua empregabilidade.

Ministro da Economia espanhol, durante uma conferencia em Madri

O governo espanhol anunciou uma série de medidas para diminuir os gastos públicos e flexibilizar o mercado de trabalho, além de aumento de impostos sobre o consumo e renda. A reforma do mercado de trabalho inclui um bônus para empresas que empreguem jovens e trabalhadores mais “maduros”. Detalhe: se estes forem mulheres, o premio é maior.

A Organização Mundial do Trabalho alerta porém os governos da região contra a possibilidade de “inquietude social”, caso os programas de ajuste não sejam combinados com medidas que resultem em aumento de oferta de empregos, o que causaria uma nova recessão no continente. E isso em plena Europa!

Jovens espanhóis protentando conta as reformas econômicas

Jovens das maiores cidades espanholas, como Madrid e Barcelona, foram às ruas protestar agora em maio. Há que se mencionar o motivo pelo qual os protestos ainda não escalaram. Especialistas apontam que os jovens não têm um partido com o qual se identificam, como o Partido Verde ou Pirata na Alemanha. Além disso, os mais atingidos pela crise é a pacífica classe média. Esse pacifismo é uma consequência da cruel guerra civil espanhola.

Um terço dos espanhóis entre 25 e 34 anos ainda moram com os pais (na Alemanha são 14%), o que significa que eles têm abrigo, mas nenhuma perspectiva. O que falta seria somente uma faísca para que haja uma explosão, afirmam sociólogos.

Uma pesquisa de opinião do instituto americano Pew Research com mais de 9000 pessoas nos Estados Unidos e 8 países europeus, entre eles a Espanha, concluiu que a Alemanha é ainda a nação europeia mais admirada e os seus dirigentes são os mais respeitados.

A dificuldade de arranjar trabalho está provocando uma onda de emigração sem precedentes, principalmente entre os acadêmicos. A Alemanha recebeu no ano passado 52% mais espanhóis e o Instituto Goethe teve na Espanha 60% mais matrículas em seus cursos de alemão do que em 2010. Fazia muito tempo que não ouvia a palavra “êxodo”. É o que está acontecendo.

Muitos dos que emigram conseguem trabalho, porem aquém de suas qualificações (a barreira da língua atrapalha). Como não têm perspectivas em seu próprio país, eles vão ficando na esperança de melhores dias. Uma história que ainda vai mudar muita coisa por aqui.

O veneno secreto em nossos pratos

Os alimentos processados dominam as prateleiras dos supermercados.

Esse foi o título de uma reportagem sobre a cadeia produtiva de alimentos na Alemanha publicada no Handelsblatt, o Jornal do Comércio alemão. Nos últimos tempos têm sido vinculados em diversos meios de comunicação aqui na Alemanha (revistas, internet, documentários na TV) extensas matérias sobre o tema. Uma delas, da revista semanal “Stern”, tinha o título “Por que nós fazemos isso?”, referindo-se ao fato de ingerirmos alimentos cada vez mais industrializados, com cada vez mais ingredientes que não conhecemos, não temos idéia nem do que se trata, muito menos sabemos dos seus efeitos a longo prazo.

A cadeia produtiva foi definida na matéria como “um sistema altamente subvencionado, composto por grandes produtores rurais, fábricas de animais (que são os grandes abatedouros), fabricantes de pesticidas, veterinários, produtores de sementes e empresas farmacêuticas”. Também foi tratado como insanidade a superprodução, e a cultura do “jogar fora” como um efeito colateral da própria superprodução, e que o crescimento brutal do segmento é feito às custas de quem não pode se defender sozinho: os animais e o meio ambiente. Parece a “teoria da conspiração”, pensei num primeiro momento. Mas, analisando-se mais a fundo, percebo que não há exageros.

O círculo vicioso tem como motor o estímulo ao consumo. As empresas empregam técnicas que lhes permitem aumentar a produtividade e baixar o custo de produção, o que é legítimo, e feito em qualquer outra indústria. Prejudicial é o fato desses produtos/aditivos serem usados em grandes quantidades e frequentemente, sem o controle adequado. É o caso dos antibióticos que teriam por objetivo proteger a saúde dos animais mas que estão causando graves problemas de saúde nos seres humanos: as bactérias superresistentes dos animais são ingeridas com a carne, gerando nos seus consumidores – NÓS MESMOS – resistência aos antibióticos. Ainda que aqui na Europa os produtos geneticamente modificados nem são permitidos…

Que a carne na Europa não tem sabor eu já sabia, novidade é o fato de ela ser de má qualidade. Pelo menos a carne brasileira tem sabor…

Como os grandes pecuaristas tratam os animais?

Surpreendente é que até hoje não há controle sobre o que os animais recebem de medicamento, em que regiões e em qual quantidade ao longo da vida. Pelo menos isso deve mudar num futuro próximo. Há previsão de que entre em vigor uma lei que obrigue os criadores a relatarem o que seus animais ingerem além de comida, ao longo da vida.

Também quando compramos alimentos industrializados, que contém conservantes, corantes, e realçadores de sabor como o glutamato monossódico, estamos acostumando nosso corpo a reagir de acordo com esses ingredientes. Explicando: quando consumimos temperos prontos, nossas papilas gustativas vão sendo “treinadas” para esse sabor. De repente um molho de tomate ou um feijão temperado “só” com ervas, cebola e alho (como nossas mães e avós faziam) passam a não ter mais gosto. Esse efeito é o que deseja a indústria de alimentos. Ela não deixa de colocar esses ingredientes nos seus pacotinhos (o glutamato foi proibido, mas outras substâncias continuam sendo usadas e têm o mesmo efeito), pois sabe que o consumidor pode se desacostumar deles. A situação fica mais cruel quando se trata de alimentos para crianças, mas isso é assunto para outra conversa.

Em um documentário da TV foi exibido um teste com uma família de 4 pessoas que comprovou essa teoria. Durante 4 semanas a família se propôs a não consumir nenhum tipo de produto que contenha corantes, conservantes, etc. A tarefa é extremamente difícil, pois nos supermercados europeus a diversidade de produtos é imensa e manter-se longe desses ingredientes é quase impossível. As prateleiras estão repletas de soluções mágicas…

Um especialista em alimentos ajudou a família nas compras e no preparo das receitas, que envolveu desde purê de batatas, massas, filés de peixe empanados, enfim, tudo o que vai do freezer ou geladeira direto para o forno ou frigideira. Até o iogurte foi feito em casa. Claro que na primeira semana as crianças acharam a experiência não muito agradável mas, ao final desse período, a filha mais nova passou a achar o iogurte da mamãe mais gostoso….

E você sabia que as saladas de pacote, aquelas prontas para o consumo, como as que são vendidas nas cadeias de fast food, não têm valor nutritivo quase nenhum? Isso acontece porque as folhas não devem ser cortadas, e sim rasgadas no sentido das veias, sob pena de perda de seus nutrientes.

Fazenda de cultivo orgânico de hortaliças.

Aqui na Alemanha há muitos chefs de cozinha que têm se envolvido com a causa. Certa vez, num programa sobre panificação, ouvi que o pão de saco fatiado de fábrica é um pão morto… Parece exagero, mas a diferença é clara: experimente cortar um pão fresco da padaria e pegue uma fatia do seu pão de torradeira. Compare. O aroma, a textura… nunca mais consegui comer pão de saco.

A cada dia torno-me mais consciente do que eu como, como eu como, quem produziu, e com que ingredientes… Porque no fim das contas, nós consumidores somos os prejudicados. Porém temos sim o poder de mudança. Só que para isso precisamos ter consciência e aplicarmos consequências.

Minha pretenção é compartilhar com meus leitores(as) informações sobre nossa alimentação. Nas últimas décadas nossos hábitos sofreram mudanças tão abruptas para as quais nosso organismo não está preparado biologicamente. O simples fato de não termos o ritual de preparo de nossas refeições é um exemplo. Ensinar as crianças a cozinhar, a participar do preparo, a escolher ingredientes e a mexer com eles é fundamental. Só assim poderemos reduzir os casos de obesidade, diabetes, e câncer que assolam a humanidade.

Tomates orgânicos apanhados mais pequenos.

“Você é o que você come”. A nossa principal fonte de energia, saúde e juventude é a alimentação, cuja importância tem sido sistematicamente colocada em segundo plano. Bom é o que é feito rápido? E que de preferência custe pouco? Eu já comecei a rever meus conceitos e convido você a fazer o mesmo. Tenho certeza de que há pontos em sua rotina que podem ser melhorados para aumentar sua qualidade de vida.

Se você souber alemão e quiser ler a reportagem na íntegra, com dicas de livros para continuar se informando, acesse o link:

http://www.handelsblatt.com/unternehmen/industrie/lebensmittel-produktion-das-giftige-geheimnis-auf-unseren-tellern/6629862.html

Como o aspargo é mais gostoso?

Quem já viajou de carro pelo interior da Europa no começo da primavera (abril e maio) deve ter notado certas faixas de terra, arrumadas como “morrinhos” e cobertas com plásticos brancos ou pretos. São plantações de aspargos. Eles precisam ficar cobertos para ficarem brancos, senão formam clorofila e se tornam verdes, os aspargos verdes.

Esta é a única época do ano para se comer aspargos frescos! Esse legume é a verdadeira estrela gastronômica da primavera. Acredito que explica-se essa fascinação no fato dele ser um dos primeiros legumes colhidos após o inverno do norte europeu, tem sabor incomparável e fonte de vitaminas e minerais. Curioso é que atualmente o maior produtor mundial de aspargos não fica nem na Europa… É o Chile!!!

Bem, aspargos são cultivados em várias regiões da Alemanha. Eu vivo numa região produtora, por isso encontro frequentemente barracas montadas pelos agricultores nas cidades para vender seus produtos diretamente ao consumidor: no estacionamento do supermercado, na porta das empresas, nas zonas de pedestres…. Os preços variam conforme a grossura… claro que o mais grosso é o mais caro, né?

Os restaurantes oferecem cardápios especiais e o preparam das maneiras mais criativas possíveis, é uma febre mesmo. Eu mesma já até fiz um curso de culinária para aprender a lidar com ele há alguns anos atrás.

O jeito mais tradicional de se comer aspargos brancos é acompanha-lo com batatas cozidas, presunto e molho holandês. Há quem os sirva acompanhando carne de boi ou porco, gratinado, como salada, no molho de macarrão… E com um bom vinho branco gelado é perfeito.

Como se cozinha aspargo?

Corte cerca de 2 cm do aspargo e o descasque o talo (existe um utensilio especial de uma marca chique, mas eu uso um descascador de batatas mesmo). Detalhe: a cabeça não!

Ponha água para ferver suficiente para cobri-los numa caçarola ou na panela de aspargos, que é mais alta e menos larga. Na água coloque sal, uma pitada de açúcar, algumas gotas de limão e uma colher de manteiga.

Quando ferver coloque os aspargos e deixe cozinhar cerca de 10 minutos. Retire da panela, escorra bem (ele costuma segurar água) e arrume-o no prato com os acompanhamentos!

O aspargo verde é cozido também na água com sal, açúcar e manteiga, mas não coloque o limão! Outra maneira é refogá-lo como qualquer outro legume, por exemplo o brócolis ou a vagem, pois seu tempo de cozimento é menor do que o branco.

Recentemente testei uma nova receita: refoguei os aspargos verdes descascados e a vagem com azeite, alho e cebola. Quando esfriou, acrescentei cebolinha verde e alface americana rasgadas em pedaços pequenos. Fiz um molho de salada com vinagre de maçã, azeite, mostarda e mel e misturei tudo. Com churrasco ficou ótimo! Bom apetite!

Meu jeito de ser mãe

Eu acho que ser mãe é a experiência mais extraordinária que uma mulher pode ter, em qualquer lugar do mundo, faz parte da nossa natureza, consciente ou inconscientemente.

Hoje comemora-se o dia das mães na maior parte do mundo. (Sim, descobri ontem que na Hungria, por exemplo, o dia das mães foi domingo passado, eles comemoram no primeiro domingo de maio). Meu texto de hoje é um depoimento sobre como eu encarei o desafio de ser mãe expatriada na Alemanha.

Viver longe de casa tem seus pontos negativos e positivos, como tudo na vida. Minha gravidez não foi das mais fáceis, eu precisei ficar os últimos 3 meses em repouso. De uma hora para outra, literalmente, tive que trocar o “oba-oba” e ir direto para o hospital, sob pena de meu filho nascer pré-maturo demais, com poucas chances de sobreviver. Fiquei 8 semanas deitada, metade desse tempo no hospital e eu só estava autorizada a levantar para ir ao banheiro. Pensa se eu questionei a orientação do médico?

Situações como essa já deixa-nos numa situação difícil quando se é sozinha (sem filhos), uma doença minha com uma criança pequena causaria muitas outras complicações. A simples idéia de ter outra gravidez difícil e precisar ficar em repouso com meu filho menor de 3 anos acredito que, inconscientemente, impediu uma segunda. A responsabilidade é muito grande e talvez minha cabeça não estava preparada para lidar com isso naquele momento.

Por outro lado, eu tomei esse tempo em repouso para mim e meu filho. Foi uma fase de descobertas do que eu era capaz, da força que existia em mim e eu nem sabia. Eu estava gerando uma outra vida e isso era a única coisa que importava, um sentimento que eu nunca vou esquecer. Foi aí que comecei a ser mãe.

Quando Gabriel nasceu tive o apoio de minha sogra durante 3 meses. Então ela se foi e eu precisei tocar o barco sozinha. As decisões eram minhas (e algumas vezes do pai – risos), não havia ninguém para discutir e opinar se aquilo é bom ou não. Eu li muito sobre o assunto, mas havia coisas que achava que tinham que ser feitas do meu jeito e pronto. A minha parceira de blog deu um nome bonito pra isso: “empowerment” (adorei!).

O fato de viver longe de casa também impulsiona a se procurar apoio por perto. Eu entrei em todo tipo de atividade com meu bebê: natação, grupo de brincar (os chamados “play groups”), ginástica, visitas ao parquinho. E comecei a me relacionar com muitas mães, a investir na amizade com as que eu me identificava. E percebi que à minha volta havia muitas famílias alemãs que, por um motivo ou outro, também viviam longe de suas famílias e tinham tanto apoio e/ou a presença dos pais quanto eu, senão menos.

Como eu disse, tudo tem seu lado bom e ruim. O meu jeito de tirar o melhor proveito disso foi observar e fazer um julgamento o mais imparcial possível do modo como as crianças são criadas aqui e no Brasil. Então procurei incorporar o que há de melhor nas duas culturas.

Vou citar um exemplo, entre muitos que há. As crianças aqui são mais quietas, controladas, têm mais limites. No Brasil há mais flexibilidade, menos cobrança, mais espaço para criatividade. Será que dá para combinar os dois? Estou experimentando, isso faz parte do jogo também. Meu modelo de criação é diferente do modelo vigente, pois não é nem A nem B, é um AB…

Esse é meu jeito de ser mãe. Aprendi a ser mais consciente de minhas ações, a me preocupar em dar o exemplo certo, a vivenciar a diversidade e a valorizá-la, a romper com paradigmas de minha própria cultura, incorporando o que acho que funciona melhor na outra. Faço isso achando que vai dar certo… mas só o futuro dirá.

Claro que tenho minha “musa inspiradora” – a minha própria mãe!!! Ela, que me ensinou tantas coisas e ainda ensina… Que também foi mãe expatriada no seu próprio país, que também experimentou um modelo novo… Às vezes paro para pensar em quantas semelhanças há em nossas histórias.

Um beijo bem carinhoso, mãe… Esse é o lado ruim de ser expatriada. Às vezes tenho minha mãe por perto. Às vezes, não.

Pontualidade germânica!

Uma coisa eu não entendo: de onde surgiu o termo “pontualidade britânica”? Só porque o Big Ben fica em Londres não significa que os ingleses sejam o povo mais pontual do mundo! Eu tenho motivos para acreditar que são os alemães que ganham essa parada. Para defender minha teoria vou citar alguns exemplos…

Os alemães levam esse assunto muito a sério. Para eventos profissionais não é de surpreender, pois até no Brasil se você por exemplo chegar atrasado em uma entrevista, esqueça. Reuniões têm horário para começar E acabar, que quase sempre são cumpridos.

A Alemanha também é conhecida pela pontualidade do seu sistema de transporte público. O que me admira é que, planejar os horários de chegada e saída de trens pode ser relativamente fácil se comparado ao planejamento dos ônibus. Aqui trens e ônibus programados para chegar às 9:42, chegam às 9:42! Percebe-se que o ônibus está para chegar quando começa a haver aglomeração no ponto…. não adianta chegar antes, não! Todo o sistema já está disponível para consulta nos celulares e isso torna ainda mais fácil a locomoção.

O que me causa espanto e, no começo também um certo desconforto, é que eles são assim nos eventos privados também. Aqui churrascos, encontros, bate-papos e coisas do gênero normalmente são marcados com dias, semanas, meses de antecedência! Os alemães gostam da previsibilidade e, quando se marca, está juramentado e sacramentado, mesmo que seja de boca. E o que se espera é que o convidado seja educado e chegue na hora. Nem 10 minutos antes, nem 10 minutos depois.

Férias são agendadas para o ano todo e muitas vezes também anos à frente. A vantagem é que aqui o funcionário tem o direito de dizer quando quer tirar férias. E tem que haver um motivo muito forte para o empregador negar o pedido. Então eles se programam no período que melhor lhes convém, fazem reserva nos hotéis, voos e pacotes de viagens. Tudo bem organizadinho… para não dar nada errado!

Outro exemplo de experiência intercultural inesquecível aconteceu com uma brasileira na visita prévia à sua transferência. Essa visita pode incluir a escolha do local de moradia, a escola dos filhos, a compra do carro e por aí vai.

Pois bem, a “madrinha” que a estava acompanhando marcou às 13 horas uma visita a um imóvel. A madrinha a pegou em casa e chegaram às 12:55 ao local combinado. E então a brasileira desatou os cintos e ia abrindo a porta para sair. A madrinha então disse: “Vamos esperar, chegamos 5 minutos mais cedo”.  O meu leitor ou minha leitora deve estar fazendo a mesma cara que a personagem da história fez. “Quê?”. Isso mesmo, elas ficaram esperando dentro do carro, combinado é combinado….

A única similaridade com a pontualidade brasileira que observo aqui é o horário de atendimento nos consultórios médicos. Esqueça, você nunca vai ser atendida na hora. Eles dizem que é por causa dos “encaixes”, mas o que dizer de uma consulta que dura 15 minutos representar uma manhã toda no pediatra? Simplesmente inaceitável!!

A pontualidade por outro lado representa uma certa pressão para muitos nativos. Em nosso círculo de amigos, por exemplo, tem de tudo. Mas o que eu noto é que uma maioria crescente deles adora poder “usufruir” da nossa flexibilidade. Na nossa casa é assim: mais ou menos tal hora, a partir de tal hora. Hora para acabar? Brasileiro não sabe o que é isso! Se está bom, vai ficando… e assim aconteceu uma situação bem interessante.

Um casal de amigos com duas crianças vieram para um almoço de Páscoa. No dia demos tanta sorte que foi a Páscoa mais ensolarada e quente que já tivemos aqui. Eles chegaram no horário (12:30 h) e trouxeram o que havíamos combinado. Eu, bem prevenida, fiz compras pensando numa tarde gostosa no jardim. Afinal o dia estava reservado para eles mesmo. Quando chegou pouco antes das 4 da tarde, a esposa já estava juntando suas coisas para ir embora. Isso me causou espanto, porque estava realmente um dia muito gostoso, nosso papo e a brincadeira da criançada estava rolando solta…

Foi aí que perguntei o porque dela estar se aprontando para sair. E ela me respondeu que tinha sido convidada para o almoço… Olhei para ela e disse que, na nossa casa, não tem que sair na hora do café. Ela me olhou com surpresa nos olhos e desistiu da idéia. Coloquei a mesa para o café, servi bolo (um hábito típico alemão), sorvete, frutas, suco… e seguimos a tarde. Eles foram embora às 7 da noite. Desde esse dia eles aprenderam e se comportam como nós: chegam atrasados, são os últimos a sair, vão ficando… parece que estão de férias! Viva a diversidade!

Location ratings 2012 – como anda a qualidade de vida pelo mundo…

Em um estudo recentemente concluído pela consultoria ECA International foi avaliada a qualidade de vida de 265 cidades no mundo inteiro, sob a referência europeia. O objetivo do estudo é fornecer base de cálculo para o pagamento de ajuda de custo a funcionários expatriados para que estes consigam manter o padrão de vida na nova cidade, independente da cidade de origem.

O estudo “Location Rating” avalia qualidade do ar, clima, sistema de saúde, possibilidades de integração, criminalidade e segurança, possibilidades de contato social e oferta de atividades de lazer, infraestrutura e tensões politicas. De acordo com a consultoria, o ranking leva em consideração também a relação entre as condições de vida na cidade de origem e na de destino.

O resultado desse ano mostrou que Berna (Suíça) e Copenhagen (Dinamarca) são as cidades que oferecem a melhor qualidade de vida no mundo, seguidas por Luxemburgo. Stuttgart, Antuérpia e Genebra aparecem em 4. lugar. A lista com as cidades top 50 para expatriados europeus, assim como as 10 piores cidades, estão no link:

http://www.eca-international.com/news/press_releases/7654/ – .T54wcO3vYYM

As cidades alemãs Stuttgart, Düsseldorf, Munique, Frankfurt, Bonn, Hamburgo e Berlin aparece entre as top 15 locations. Os principais motivos apontados foram a segurança, boas escolas, qualidade de moradia, limpeza do ar e a excelente infraestrutura. Paris e Madrid estão empatadas no 23. lugar, Londres ficou em 31. lugar (devido a preocupações com a segurança) e Moscou, 139.

Saindo do continente europeu, as cidades de Vancouver e Toronto no Canadá oferecem as melhores condições para expatriados e aparecem no 23. lugar do ranking, pelo fato de as diferenças culturais serem relativamente pequenas. A qualidade do ar, o sistema de saúde e oferta de mercadorias e serviços foram também avaliadas positivamente.

Na América do Sul os principais problemas apontados foram a falta de segurança e a poluição ambiental. São Paulo e Rio de Janeiro, que aparecem na 135. posição, assim como Cidade do México (146.), Caracas (185.) e Porto Príncipe (261.) tiveram nota muito ruim no quesito segurança. Santiago do Chile (85.) e Cidade do México (146.) tiveram mundialmente as piores notas para qualidade do ar.

As estrelas asiáticas foram Cingapura (66.) e Kobe (70.). Tóquio e Yokohama caíram do ranking após as catástrofes no Japão em 2011. A terceira colocada na Ásia foi Hong Kong, apesar da qualidade do ar ser ruim. Pontos positivos foram a existência de excelentes escolas, moradia, sistema de transporte e a oferta de produtos e serviços. Na China a vencedora foi Shanghai (127.), seguida de Pequim (129.)

Cidades indianas como Bangalore (159), Nova Deli (185), Chennai (194) e Mumbai (206) conseguiram notas boas nos quesitos escolas, moradia e oferta de bens para expatriados. O ponto negativo é o sistema de saúde.

Na Austrália foram Canberra (35), Melbourne, Adelaide (38) e Sidnei (46) eleitas as melhores cidades.

No Oriente Médio e África, tradicionalmente localidades de difícil escolha para europeus, várias cidades caíram ainda mais de posição em comparação a 2011. A situação politica piorou com o aumento de tensões sociais aumentaram a preocupação com a segurança. Trípoli caiu 29 posições, para o 257 lugar e Cairo caiu de 156 para 178. Damasco caiu 25 posicoes e ficou em 189. lugar. Para os europeus Tel Aviv (83) permanece a melhor cidade na região, à frente de Dubai e Doha (90) e Abu Dhabi (92).

No link abaixo estão várias publicações relativas a esse estudo produzidos em diversas línguas e sob perspectivas de diversas culturas, para quem quiser pesquisar mais.

http://www.eca-international.com/news/press_releases

Matéria e Anti-matéria

Até onde me consta, foi nos tempos de Hitler que a ideia de que não existe substituto para a mãe alemã no que diz respeito ao cuidado e educação de seus filhos foi propagada. Por isso as políticas de licença maternidade, construção de pré-escolas e berçários estimularam as mães a cuidarem dos filhos até os 3 anos de idade. Como consequência existe hoje na Alemanha falta de infraestrutura para atendimento às crianças de pré e ensino fundamental.

Há cerca de 4 anos foi ampliado o sistema nas pré-escolas para receber crianças a partir de 2 anos (antes era a partir de 3 anos). Meu filho fez parte da primeira turma de crianças no Kindergarten dele que começaram a frequentá-lo com 2 anos, para se ter uma idéia. Eu mesma recebi olhares de reprovação por parte de mães mais conservadoras, como se fosse pecado entregar o filho para outra pessoa cuidar aos 2 anos de idade! A mudança foi grande também para o sistema: adaptar instalações, treinar pessoal, mudar a rotina para acomodar hora do sono ou troca de fraldas, etc.

E as crianças de 0 a 2 anos? Recentemente saiu uma reportagem na revista Stern sobre a dificuldade de se conseguir uma solução que agrade a pais e crianças. As mães que precisam ou querem trabalhar não têm muita opção: contratar uma “cuidadora” que fica com o bebê durante o dia ou por algumas horas (o que é caro, pois tem que ser pago com recursos próprios), ou tentar a loteria de conseguir uma vaga em uma das raras instituições que os recebem.

Outro ponto importante é o período em que as escolas atendem. Pré-escolas só estão abertas até às 16:30 horas (quando muito!), escolas primarias até às 13 horas e recreação à tarde até às 17 horas (também quando muito!). Meu leitor pode imaginar a dificuldade que é se conciliar trabalho em período integral e família vivendo aqui.

As mulheres que já trabalhavam antes da maternidade gozam porém de uma situação bem mais confortável. Elas podem optar por não trabalhar 100% do tempo após a licença maternidade. E as empresas têm que aceitá-las de volta, pois não podem dispensá-las por esse motivo. É comum porém o remanejamento de funções após a licença, pois nem todo trabalho pode ser realizado por exemplo das 9 às 15 horas.

Há uma parcela considerável de mulheres que, por não conseguirem emprego no seu nível de qualificação, sujeitam-se aos chamados “minijobs” (trabalhos na área da limpeza, catador de lixo, atendente de posto de gasolina ou de padaria, telefonista, etc) ou empregos em período parcial. Quando elas se aposentarem, receberão uma quantia que claramente não será suficiente para cobrir suas despesas na velhice, pois não terão contribuído para o sistema de previdência.

Só para se ter uma idéia: uma trabalhadora que ganha 1440 euros em período integral terá depois de 35 anos de contribuição somente 500 euros de aposentadoria. (Nossa geração é a primeira que está fazendo plano de complementação de aposentadoria. Acabou-se era dos velhinhos abonados do pós-guerra, que deixam os filhos e netos em casa e viajam metade do ano pelo mundo.) Mulheres que só tiveram os chamados “minijobs” de 400 euros terão após 45 anos de trabalho míseros 139,95 euros!

O poder público não está conseguindo adaptar a estrutura ao mercado de trabalho com a velocidade necessária. A solução proposta pelo atual governo é instituir uma ajuda financeira para mães que se proponham a ficar em casa para cuidar dos filhos e, claro, abdiquem de suas vagas nas pré-escolas (chamado de Betreuungsgeld). Não sei o que é pior: a doença ou o remédio…

O “milagre” funcionaria assim: a partir de 2013 seriam pagos 100 euros, a partir de 2014 o salario-fogão seria de 150 euros…. Em um dos Estados onde esse sistema já foi implementado em 2006 só optam por esse auxílio – mínimo, diga-se – aquelas que já ganham pouco, pois a ajuda representa uma parte não desprezível do orçamento mensal.

Não é muito difícil imaginar o que acontecerá. O problema da empregabilidade das mulheres vai provocar uma onda de aposentadas pobres no país (calcula-se um aumento dos atuais 2% para 10% até 2025), principalmente na antiga Alemanha oriental, dizem os críticos. Para “solucionar” esse problema, o governo também está propondo um complemento de aposentadoria para essas mulheres que acham emprego nos “minijobs”, além dos seguros que já existem hoje….

No mesmo artigo o autor chamou as duas partes do plano de Matéria e Anti-matéria: quando se encontram, eles se destroem, desperdiçando uma enorme quantidade de energia. Ótima definição! Ao invés de investirem no sistema de educação primaria e pré-escolar para garantir condições das mães irem trabalhar e construir suas existências, arrumam soluções que se contradizem e que dificultam o reingresso no mercado de trabalho a essas mulheres, gerando pobreza. Como disse o autor da crítica, teria que acontecer uma revolta feminista no governo!

Situação de aposentado pobre nós brasileiros conhecemos bem. O que me assusta é que essa realidade pode estar chegando aqui, se não for feito nada para impedir. Tanto recurso e conhecimento pra quê? Assim como no Brasil, aqui política também é assunto para “gente grande”. Ajuda demais muitas vezes atrapalha…

Kartoffelpuffer (bolinho de batata)

Kartoffel (batata, em alemão) puffer é uma das comidas que eu mais gosto aqui. Está certo, nao recomendada para quem quer perder peso. Eu costumo comê-lo nos mercados de Natal e nas festas populares, onde sempre tem alguma banca vendendo.

Lá vai:

–       1 kg de batatas (por aqui há inúmeros tipos de batatas, vendidos já separados nos mercados. Se você conseguir aquela do tipo para salada ou batata frita, que após cozinhar não se “esfarela” melhor porque não junta água.)

–       1 cebola

–       salsinha bem picadinha

–       2 ovos médios

–       100 g de farinha de trigo

–       sal, pimenta do reino e nós moscada a gosto

–       gordura ou óleo para fritar

Descascar e ralar as batatas no ralo grosso. Picar a cebola e a salsinha. Num pirex juntar todos os ingredientes e temperos. Observar se precisa mais farinha, não pode ficar muito líquido, nem muito duro. Colocar óleo numa frigideira (sem cobrir os “Puffer”)

Quando o óleo ficar quente, coloque para fritar e procure fazer o formato de um hambúrguer. Fritar até estar dourado e a batata cozinhar, por isso não use o fogo no máximo.

O resultado você pode ver ao lado: 

 

Retirar, escorrer e servir. Pode-se acompanhar com:

– purê de maçã, como eu fiz – eu encontro pronto por aqui, mas se você não encontrar uma boa opção é usar a papinha de bebê de maçã.

– molho de alho – “crème fraisch” de alho. Também conhecido como “sour cream”, a base de creme de leite.

– salmão defumado

Ou o que a sua imaginação lhe disser!

Bom apetite!

O que um descuido é capaz de causar….

Essa história se passou em um dia quente e ensolarado de agosto do ano de 2004, o mês em que tudo que há de bom na face da Terra se encontra: verão e férias!! Eu havia estado por meses em uma escola de línguas, já conseguia pedir bem mais que água na padaria…

Na época eu morava num apartamento funcional da empresa onde meu marido trabalhava. Um apartamento até que bom, mas simples em seu mobiliário e acessórios. O prédio tinha uns 10 andares e elevador (coisa rara por aqui) e haviam 3 apartamentos por andar.

Pois bem, nesse dia inusitado, meus pais desembarcariam em Frankfurt para uma estada de 4 semanas em minha residência. Eu estava bem ansiosa e feliz pela chegada deles. Queria deixar tudo ajeitadinho, arrumadinho… sabe como é?

Fui levar meu marido em seu local de trabalho e voltei com nosso carro, para eu poder ir ao aeroporto buscá-los. Ao retornar dessa pequena viagem, entrei em casa, coloquei a bolsa em cima do aparador junto à porta e lembrei do lixo.

(Naquele prédio colocava-se o lixo num latão na saída de serviço comum, como no apartamento em que morava em São Paulo)

Entrei e, como disse, coloquei a bolsa de lado – para não atrapalhar – e fui buscar o saco. Abri a porta e saí bem correndo porque o dito estava pingando!! Oh droga, só me faltava essa, vou ter que limpar o corredor!!!

Então entrei novamente, peguei um paninho e saí para limpar a meleca que tinha deixado, antes que caísse no esquecimento. Estou acabando de limpar, junto à porta do corredor que fica quase colado ao apartamento de frente, quando ouço um “tuc” atrás de mim.

A PORTA FECHOU!!!!! – lembrei apavorada no mesmo momento.

Na Alemanha TODAS as portas externas das residências têm esse dispositivo que só permite que se abra pelo lado de fora com a CHAVE. Cadê a chave? Exato: dentro da bolsa que estava dentro do apartamento!

Estava trancada do lado de FORA!! O que fazer agora?

Minha primeira opção foi chamar o serviço de chaves. Mas como chamar, se meu celular e o cartãozinho do moço estavam dentro de casa? Eu ainda tentei tocar nos meus vizinhos, mas aparentemente só eu estava em casa naquele momento.

Esse descuido iria me custar uns 60 euros – que eu obviamente não tinha… Teria que ir ao banco, mas vamos lá. Foi aí que me lembrei da minha simpática cabeleireira, que tinha o salão há uns 150 metros dali. Fui até lá e na conversa ela acabou me emprestando primeiro uma escada. Afinal eu morava no 1. andar. Era só esticar um pouco o braço…

Em vão. Voltei com a escada para o salão. Era muito curta.

Quem teria uma escada maior? – pensei.

“Tem um apartamento no prédio em frente ao seu que está em reforma. Quem sabe os pedreiros não tem uma escada maior?” – ela sugeriu. E eu aceitei a sugestão.

Voltei ao local e fui perguntar. Eles tinham uma escada um pouco maior. Mas ainda insuficiente.

Quem teria uma escada maior? – pensei….

Esse meu vai-e-vem já tinha chamado a atenção de algumas pessoas da redondeza. Até que um comerciante me disse que tinha um amigo que trabalhava para uma empresa que prestava serviços de eletricidade e eles tinham uma escada que alcançava até os cabos de luz da rua. Se eles estivessem na redondeza poderiam colocar a escada no parapeito da janela e abrir a janela por dentro. (Detalhe: era verão e a janela estava tombada e não trancada)

Foi então que, em 30 minutos, esse amigo e equipe chegaram e conseguiram abrir minha janela!!! Eu nunca imaginei que teria tanto trabalho para entrar em casa! Tive que pular a janela, literalmente!!! Nossa, como posso recompensar esses bravos homens que vieram até aqui praticamente arrombar minha própria casa para eu poder entrar? Ofereci algo para os “heróis” tomarem e perguntei o quanto custava o serviço deles. “Nada, não.” Como nada? Resolvi então “pagar uma cervejinha”, eu não tinha mais do que isso mesmo na carteira…. pronto, me senti no Brasil!

Essa foi uma das primeiras vezes que usei meu alemão para me comunicar eficientemente, numa situação pra lá de estressante. Foi aí que percebi que os alemães são bem mais solidários do que eu pensava.

Enquanto isso meu marido nem suspeitava do mico que a esposa passava em casa…. Só então pude acabar de me “embelezar” para ir ao aeroporto. Haja stress!