“Vestibular” Americano

“Vestibular” Americano – Jovens Brasileiros São Bem Vindos

Não sei como anda o vestibular no Brasil com o Enem, mas estou descobrindo o processo que os jovens americanos enfrentam para entrar numa faculdade nos Estados Unidos com fascinação.

Enquanto no Brasil o sistema é 100% acadêmico, pelo menos era nos meus tempos de vestibular—no fim dos anos 80; nos Estados Unidos usa-se o que eles chamam de Processo Holístico. Não se leva em consideração apenas o resultado de testes, mas sim o conteúdo de dissertações sobre temas da atualidade, e outras de conotação pessoal do tipo: “Por que você acha que essa é a universidade certa para você?” Também são solicitadas cartas de recomendação, e detalhes sobre suas atividades extracurriculares. Bons atletas, músicos, bailarinos, cantores, atores, escoteiros, etc. devem expor estes aspectos de suas vidas. Atletas são particularmente bem vindos, chegando a receber bolsas de estudo integrais. Jovens músicos que tocam instrumentos clássicos como violino, viola, oboé, etc. também são bastante cogitados, dependendo da sua habilidade. Sem falar em intermináveis questionários online onde entram-se detalhes da vida inteira.

Outra diferença bastante interessante refere-se aos testes. No Brasil, no meu tempo, para cada universidade (university) ou faculdade (college) o jovem precisava passar por uma bateria de testes. Se você quisesse tentar entrar em 8 (oito) faculdades, tinha que participar de 8 vestibulares, ou prestar 8 vestibulares, e tinha que passar por 8 testes diferentes, sendo que alguns deles envolviam mais de uma fase. Nos Estados Unidos, os jovens escolhem entre dois testes padronizados, o SAT e o ACT (ambos oferecidos por companhias independentes), sendo que faculdades de elite (chamadas Ivy League, como Harvard, Yale, Princeton e Stanford entre várias outras), e de ciências exatas em geral, exigem o ACT. Além destes testes que cobrem inglês, matemática, e análise de dados, também são oferecidos testes específicos para matérias como química, biologia, física, história, e idiomas estrangeiros. A grande vantagem deste sistema é que os jovens fazem testes relacionados aos seus interesses. Assim, se o objetivo é entrar numa faculdade de engenharia, não é necessário fazer teste de história, por exemplo. Os jovens fazem os testes que enriquecerão seus currículos de acordo com as faculdades para as quais querem se inscrever. E usam os mesmos resultados para todas elas. É bastante prático. Faz-se os testes, e no website da empresa que os organiza marca-se as faculdades e/ou universidades para as quais se pretende “prestar”, e todas recebem formulários pelo correio no seu nome, com os seus resultados.

Outro aspecto que eu estou achando muito bacana sobre esse sistema é que respeitando-se um intervalo, que varia de acordo com o teste, pode-se repetir os testes quantas vezes se desejar. Por exemplo, se o resultado do ACT na primeira tentativa oficial não foi satisfatório, tenta-se de novo em alguns meses. As faculdades que estão na sua lista verão todos os resultados, mas dentro de um certo número razoável de tentativas (digamos no máximo três num período de um ano), elas apreciam o esforço dos jovens em estudar, e registram seus melhores resultados em cada matéria, e em cada teste, no processo final de avaliação. Isto sem contar a chance de se fazer os testes nas datas oficiais sem que se registrem os resultados oficialmente, estes são chamados testes preparatórios ou Prep-SAT (PSAT), por exemplo. Pode-se fazer Prep-Tests para todas as matérias nas datas oficiais, basta marcar a opção prep na hora da inscrição. Alguns jovens começam a fazer pre-tests na oitava série para saber em que matérias eles precisam se dedicar mais e para quais matérias eles tem uma aptidão natural.

Pronto, fácil fácil, basta ter excelentes notas que todo o mundo fica sabendo.

Currículo, porém, é a palavra-chave. O processo americano mais parece o de construir um currículo vitae onde os jovens descrevem capacidade intelectual, interesses, habilidades e experiências de vida. Não basta, de longe, ser bom aluno e se sair bem nos testes padronizados, tem que ter algum talento especial ou interesse ao qual se demonstra compromisso de anos, e alguma estória de vida para contar.

Vamos começar com o tal do interesse, é por aí que se começa a compreender a verdadeira obsessão dos pais americanos com associações, voluntariado, clubes esportivos de bairro, artes, etc. etc. Como dizemos no Brasil, é de pequenino que se torce o pepino, pois é, gracinhas a parte, é logo entre 4 e 6 anos que as crianças americanas, de pais bem informados, começam a praticar esportes como natação, futebol americano (aquele que se joga com as mãos) e o nosso tradicional de bola no pé que aqui chama-se soccer (daí o termo, tradicionalíssimo, soccer-mom – mãe que leva filho para cima e para baixo por conta de atividades extracurriculares), balé, tênis, reuniões de escoteiros, coral musical, orquestra, banda, clube de xadrez, de debate, de soletrar, de desenhar, de inventar (falando sério, chama-se “makers” ou uma variação de criadores em inglês, começa com lego e vai ficando cada vez mais sofisticado até chegar a robótica, tem até robô de lego), enfim, as opções são inúmeras. Isso é bacana, pois existem atividades para todas aptidões e personalidades, mas por outro lado, pode ser bem complicado para se decidir ao que se dedicar. Todos sobrevivem, porém, e após alguns anos batendo cabeça entre várias atividade, lá pela sexta série, a primeira do ginasial (middle school) as crianças com alguma aptidão particularmente especial já foram identificadas. Tipo aquele molequinho que logo na terceira aula de natação já colocava duas piscinas na frente dos coleguinhas, pois é, acontece mesmo que eu vi, ninguém me contou. As outras crianças que não nasceram com guelras, também já descobriram que curtem ser escoteiras, ou voluntariar no banco de alimentos da cidade, ou desenhar, dançar balé, tocar violino, etc. Se o jovem é absolutamente fantástico em alguma coisa, pode ser que consiga uma bolsa de estudos pelo menos parcial. Mesmo que esse não seja o caso, se a atividade que se gosta for levada com compromisso e seriedade, tipo voluntariar por uma ou duas horas toda semana por anos (algumas escolas, e com certeza os pais, ajudam as crianças a encontrar organizações adequadas para cada idade), o resultado é uma estória de dedicação que fica muito bonita no currículo dos jovens vestibulandos.

Ótimo, você diz, entendi tudo: boas notas no histórico escolar, boas notas nos testes padronizados, e alguma atividade, ou com sorte talento atlético ou artístico, beleza, peguei o jeito da coisa. Ainda não.

Agora vem o detalhe que fecha o currículo ideal, a tal experiência de vida. Por favor, me diga, que experiência de vida para contar tem o jovem de dezessete-dezoito anos, de classe média, numa sociedade relativamente segura, e que cresceu protegido pelos pais? E esse é o grande mistério das dissertações para se entrar nas faculdades e/ou universidades americanas, e que faz com que o processo seja um tanto turvo. Minhas filhas não terão problemas nesse quesito. Através da nossa vida de nômades elas viveram em três continentes, e mudaram de escola tantas vezes, que têm estórias para contar até demais. Porém, tenho muitos amigos americanos cujos filhos não conseguem entrar nas faculdades que gostariam por conta desse fator. A boa notícia para os brasileiros é que o ser brasileiro conta como algo interessante para se explorar numa dissertação. Portanto, jovens brasileiros estudiosos e talentosos, não se acanhem, as universidade americanas estão interessadas em vocês. Se você fala inglês fluentemente e tem condições de bancar os custos de tal empreitada, suas chances de entrar na faculdade americana da sua escolha, incluindo “Ivy League”, são maiores que as chances dos jovens americanos de classe média. Mas se você pensa em estudar no exterior, deveria considerar também a Alemanha que recebe estudantes fluentes em inglês com boas notas, e oferece curso universitário gratuito para estrangeiros.

Links interessantes:

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Contatos de Emergência

redphone

Vida de expatriado tem muitos desafios, mas um dos mais complexos é o tempo que levamos para estabelecermos relacionamentos sólidos. Relacionamentos sólidos para mim são aqueles de confiança, do tipo:

 

– Posso por você na lista de contatos de emergência da escola?

 

E é claro que este tempo varia de acordo com o lugar para onde nos relocamos. Por exemplo, estou na Califórnia há pouco mais de quatro meses e ainda não tenho contatos de emergência. Somos meu marido e eu para segurar todas as barras, quando ele está perto o suficiente, senão somos eu e Deus, como dizemos no Brasil.

 

As vezes damos sorte e pinta um “rapport” com um vizinho, outras vezes a cultura do lugar ajuda. Na Georgia, logo no primeiro dia de aulas das crianças conheci uma mãe enquanto esperávamos o ônibus escolar na esquina de casa. Quando eu disse que havia mudado para lá havia poucas semanas e ainda não tinha sequer um conhecido para colocar na lista de emergência da escola, ela imediatamente me ofereceu seu número. Ela também era expatriada, e apesar de haver mudado da Índia para os Estados Unidos fazia anos compreendeu imediatamente minha situação. Somos grandes amigas até hoje. Ela me apresentou aos vizinhos, e duas outras famílias se colocaram a disposição para qualquer situação inusitada, como estar num consultório médico porque uma criança se acidentou, e alguém precisa ir buscar seu outro filho na escola, e ficar com ele por algumas horas. Seu marido está do outro lado do atlântico, ou pacífico, ou qualquer outro oceano, em viajem de negócios, e não dá para contar com ele. Já passei várias situações assim.

 

Aqui na Califórnia as pessoas parecem ser mais reservadas, informais sim, porém cautelosas. E apesar de haver jogado um verde, mencionando de passagem como acabamos de chegar e ainda nem temos os tais contatos de emergência, ninguém se ofereceu para o posto. Já perguntaram se minha filha mais velha, que tem quatorze anos, se interessaria em trabalhar de baby-sitter, mas o tal contato de emergência nada. Não estou tão desesperada porque minhas crianças já sabem ficar sozinhas em casa, mas ainda assim, estou torcendo para encontrar alguém que se candidate o quanto antes.

 

O Chá de Erva Doce Chegou aos EUA

Fennel é Erva Doce em inglês. Um dos meus chás favoritos finalmente chegou aos Estados Unidos.

Encontrei na área de orgânicos do Safeway, uma cadeia de super-mercados daqui da Califórnia, mas acho que deve-se encontrar por todo país, senão em mercados comuns, certamente em lojas de produtos naturais e no Wholefoods.

Delícia!

 

Chá de Erva Doce

Valentine’s Day não é Como o Dia dos Namorados no Brasil

Amanhã é Valentine’s Day aqui nos Estados Unidos. Como no Dia dos Namorados no Brasil os casais trocam delicadezas como chocolates e flores, e até presentes sofisticados como joias e viagens românticas. Mas o que eu mais curto neste dia é a troca de cartões entre amigos e parentes que os americanos fazem, principalmente as crianças.

Os americanos usam esta data para declarar carinho e apreciação a todos que amam, não apenas aos seus parceiros românticos. No seu livro Minha Vida na França – “My Life in France”, Julia Child conta que ela e seu marido, o diplomata Paul Child, escolheram este dia para manter contato com os familiares que viviam nos Estados Unidos, e com os amigos que fizeram em suas viagens pelo mundo. Eles eram extremamente caprichosos e seguindo a tradição americana de fazer os cartões manualmente, chegavam a montar altas produções fotográficas para decorar seus valentines. Os cartões de Valentine’s Day são chamados valentines, uma paquera também pode ser chamada de valentine, no Valentine’s Day namorados e casados chamam seus parceiros de valentine, ou seja, valentine é uma palavra coringa amplamente utilizada não somente no Valentine’s Day mas nas semanas que o antecedem.

Nas escolas as crianças do primário (elementary school) levam bilhetinhos com algum docinho ou bombom para todos os coleguinhas de classe. Semanas antes da data as crianças decoram caixas de sapatos e levam para a escola para guardar seus valentines, e as professoras enviam listas com os nomes de todos os amiguinhos para as crianças não esquecerem de ninguém. E é claro que as crianças também entregam valentines aos seus professores.

Olha só que graça essa idéia de caixa para valentines da Crissy's Crafts

A partir do ginasial (middle school), os adolescentes não trocam valentines com todos os amigos; sabe como é, isso passa a ser coisa de crianças e eles são “adultos” demais para essas bobagens. Algumas meninas nessa fase ainda entregam valentines para as melhores amigas, mas não para os meninos, a não ser que sejam namorados, pois não querem ser mal interpretadas. Os meninos dessa idade porém, só entregam valentines às namoradas, ou para a menina que eles gostariam que fosse a namorada, coisa que exige muita coragem.

Aqui em casa eu ajudo minha pequena a decorar sua caixa de coletar valentines, e a preparar os catões para todos os amiguinhos; ajudo a minha mocinha com os seus cartões para as melhores amigas (ainda não temos paqueras sérias para considerar, mas do jeito que vamos não demorará muito); e costumo fazer um jantar gostoso para toda a família. As vezes eu compro uma das sobremesas tentadoras em formato de coração que decoram as vitrines das padarias dos mercados. Para o marido? Um cartão, e quiçá as crianças irão cedo para a cama, assim poderemos assistir um filminho romântico abraçadinhos no sofá.

As Crianças Crescem, e as Tradições Mudam, Mas o Espirito do Natal Permanece

A casa já esta pronta para a festa.

No Brasil a noite do dia 24 de dezembro é amplamente celebrada. É na véspera do Natal que os brasileiros ceiam a trocam presentes. Aqui nos Estados Unidos os costumes são diferentes. Algumas famílias até se reúnem para um jantar em família, outras vão à missa, mas a grande celebração para as crianças acontece na manhã do dia 25. Pois durante a noite, enquanto as crianças dormem, o Papai Noel desce pela chaminé da casa (se a casa não tiver chaminé ele entra pela janela mesmo) com seu saco de presentes e os arranja ao redor da Árvore de Natal, então ele come o cookie e bebe o leite que as crianças deixam preparados numa mesinha próxima a árvore, e parte para a próxima casa. Não é de se espantar que ele seja tão fofo, bebendo leite e comendo cookies em todas as casa do mundo como faz.

Aqui as missas de Natal do dia 24 são bem lotadas. No dia seguinte, 25 de dezembro, a criançada acorda e pula da cama animadíssima, corre para a sala e se põe a abrir presentes. Após a abertura dos pacotes, toma-se um lauto café da manhã com ovos, bacon e panquecas, pula-se o almoço, e vai-se direto para o jantar, servido cedo. Os pratos principais são, em geral, peru, presunto defumado (aquele que chamamos de tender no Brasil), pato assado, e pequenas aves como perdizes. Os acompanhamentos tradicionais incluem algum tipo de geleia agridoce como a de cranberry, purê de batatas, legumes grelhados ao refogados, e saladas. E as sobremesas sempre incluem brownies e cookies para as crianças.

Quando nossas filhas nasceram decidimos manter nossos hábitos brasileiros. Então, aqui em casa enquanto as meninas acreditavam em Papai Noel, nós jantávamos tarde, meu marido escapava para se fantasiar de Papai Noel e quando eu levava as crianças para a sala ele estava lá sentado, suando, pois morávamos na Florida onde os invernos são quentes como os do Rio de Janeiro. Ele abria seu saco de presentes e chamava as meninas que se sentavam no colo dele e ficavam encantadas, nem davam pela falta do pai. Com os anos elas passaram a perguntar: “Cadê meu pai.” Até que se tocaram, e agora a família toda é Papai Noel para as crianças das entidades que nós ajudamos todos os anos.

Eu ensinei as meninas que o Papai Noel é uma representação do espirito de bondade e caridade, que todos que podem devem ter para com os que precisam, e não apenas nesta época. Assim, além das doações que fazemos no decorrer do ano, em dezembro cada uma das meninas adota uma criança do orfanato mantido pela escola onde elas estudam. É uma entidade muito especial chamada “My House – Minha Casa”, que cuida de crianças com problemas de saúde cujas famílias não tem condições de assumir, por falta de dinheiro e/ou de estrutura, muitas vezes essas crianças são tiradas das famílias por maus tratos, e são encaminhadas à “My House” por estarem subnutridas e com sérios problemas emocionais, quando se recuperam retornam às famílias ou são encaminhadas para um orfanato convencional. Pegamos a lista de necessidades de duas crianças e montamos os pacotes, que são entregues pessoalmente pelos alunos da sexta série, todos os anos.

As listas incluem itens básicos, como artigos de higiene pessoal, pijamas, meias e chinelos, e vai até brinquedos adequados à idade e ao desenvolvimento de cada criança. Para algumas crianças, com problemas de saúde mais graves, a entidade pede dinheiro para a compra de medicamentos e descartáveis, quando é assim, fazemos um envelope com o dinheiro. Em ambos os casos as crianças escrevem cartas para acompanhar os presentes. Desta maneira, meu marido e eu vamos ensinando nossas filhas a pensarem no próximo, e serem, elas mesmas, representantes do Papai Noel.

Thanksgiving – Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos

Este é o feriado nacional mais celebrado nos Estados Unidos. Apesar do nome parecer indicar uma data religiosa, esta é na verdade uma celebração histórica. Todos os americanos, independente de suas religiões, comemoram a primeira colheita de sucesso dos peregrinos do Mayflower.

Em 1621, os colonizadores de Plymouth e os índios Wampanoag compartilharam uma “festa da colheita de outono” que é reconhecida hoje como uma das primeiras celebrações de Ação de Graças na colônia americana. Por mais de dois séculos, o Dia de Ação de Graças foi celebrado individualmente pelas colônias e estados. Não foi até 1863, no meio da Guerra Civil Americana, que o presidente Abraham Lincoln proclamou o Dia de Ação de Graças nacional, que passaria a ser celebrado na última quinta-feira de cada novembro. Em 1941 o congresso americano mudou a celebração da última para a quarta quinta-feira de cada novembro.

Neste dia os americanos agradecem suas bençãos com uma refeição em família, que tradicionalmente inclui peru assado, stuffing (um tipo de farofa feita com cubos de pão torrado), purê de batatas, gravy (um molho grosso feito das raspas da assadeira do peru), algum legume da preferência da família ao forno, como vagem, aspargos ou couve de Bruxelas, gelatina de cranberry (não me pergunte por que, eu até compro pronta e ponho na mesa, mas aqui em casa ninguém gosta),e também é comum servir-se batata doce assada ou em purê. Como sobremesa são servidas tortas de maçã, de cereja, e principalmente de abóbora, entre outros doces acompanhados de café e chá.

Surpreendentemente este é o feriado em que os americanos mais viajam para estar com a família, e não o Natal como no Brasil. As passagens aumentam de preço, e mesmo assim os aeroportos ficam insuportavelmente lotados.

Vivendo aqui há tantos anos meu marido e eu adotamos o feriado, e nos sentamos para agradecer nossa saúde, nossa prosperidade e a união da nossa família, e para celebrar os frutos dos nossos esforços. Minhas filhas nasceram aqui, e quando eram menores faziam listas de agradecimentos na escola e traziam para casa, era uma graça. Obrigada Papai do Céu pelo papai, pela mamãe, pela Pipoca (nossa cachorrinha), pela minha casa, pelos meus brinquedos, pelas minhas vovós, pelos meus vovôs, pelos meus primos, pelos meus amiguinhos, pelos meus tios, porque a mamãe vai fazer pudim de leite e brigadeiro além de torta de abóbora, porque a mamãe concordou em pintar meu quarto de rosa (agora elas odeiam rosa), ah, e a mamãe mandou eu agradecer pela minha saúde.

Os colonizadores de Plymouth, Inglaterra – Raiz histórica do “Thanksgiving”

Em setembro de 1620, um pequeno navio chamado Mayflower partiu de Plymouth na Inglaterra levando 102 passageiros, incluindo uma variedade de separatistas religiosos que procuravam um novo lar onde eles pudessem praticar livremente sua fé, e outros indivíduos atraídos pela promessa de prosperidade e posse de terra no Novo Mundo. Após uma viajem traiçoeira e desconfortável que durou 66 dias, o navio ancorou perto da ponta de Cape Cod, extremo norte do seu destino pretendido, na foz do rio Hudson. Um mês depois o Mayflower cruzou a Baía de Massachusetts onde os peregrinos, como são comummente chamados aqueles colonizadores, começaram o trabalho de estabelecer uma aldeia onde hoje fica Plymouth, no estado de Massachusetts.

Durante o primeiro inverno, que foi brutal, a maioria dos colonizadores permaneceu a bordo do navio, onde sofreram de escorbuto, surtos de doenças contagiosas, e pela exposição ao frio. Apenas metade dos passageiros originais e dos tripulantes do Mayflower viveu para ver a sua primeira primavera na Nova Inglaterra. Em Março, os colonos remanescentes mudaram para terra firme, onde receberam a visita surpreendente de um índio Abenaki que os saudou em inglês. Vários dias depois, ele voltou com outro nativo americano, Squanto, um membro da tribo Pawtuxet que havia sido sequestrado por um capitão inglês e vendido como escravo. Ele conseguiu fugir para Londres e voltar para sua terra natal em uma expedição exploratória. Squanto ensinou os peregrinos, enfraquecidos por desnutrição e pelas doenças que os afligiram durante o inverno, como cultivar milho, extrair a seiva doce das árvores de bordo, pescar peixes nos rios, e evitar plantas venenosas. Ele também ajudou os colonos a forjar uma aliança com os Wampanoag, uma tribo local, aliança essa que perduraria por mais de 50 anos, e que tragicamente continua a ser um dos raros exemplos de harmonia entre colonos europeus e americanos nativos.

"The First Thanksgiving" (1915), by Jean Louis Gerome Ferris (American painter, 1863-1930)

Em novembro de 1621, após a primeira safra de milho bem sucedida dos peregrinos, o governador William Bradford organizou uma festa de celebração, e convidou um grupo de nativos norte-americanos aliados da jovem colônia norte-americana, incluindo o chefe Wampanoag Massasoit. Apesar de na época os próprios peregrinos não terem usado o termo “Thanksgiving” para o festival, que durou três dias, esta é considerada a primeira celebração do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos. Não há um registro exato do cardápio do banquete histórico, mas Edward Winslow, um peregrino e cronista da época, escreveu em seu diário que em preparação para o evento o governador Bradford enviou quatro homens em uma missão de “fowling” (“fowling piece” é uma pequena arma apropriada para caçar aves e pequenos animais), e que os convidados Wampanoag trouxeram cinco cervos. Historiadores sugerem que a maioria dos pratos provavelmente foi preparada utilizando especiarias e métodos de cozimento tradicionais dos nativos americanos, porque os peregrinos não tinham forno. O estoque de açúcar do Mayflower tinha diminuído drasticamente até o outono de 1621, e portanto a refeição não deve ter incluido tortas, bolos ou outras sobremesas que fazem parte das celebrações contemporâneas.

Proclamação original de Abraham Lincoln estabelecendo a última quinta-feira de novembro como dia nacional de Thanksgiving

By the President of the United States of America.

A Proclamation.

The year that is drawing towards its close has been filled with the blessings of fruitful fields and healthful skies. To these bounties, which are so constantly enjoyed that we are prone to forget the source from which they come, others have been added, which are of so extraordinary a nature, that they cannot fail to penetrate and soften even the heart which is habitually insensible to the ever watchful providence of Almighty God. In the midst of a civil war of unequaled magnitude and severity, which has sometimes seemed to foreign States to invite and to provoke their aggression, peace has been preserved with all nations, order has been maintained, the laws have been respected and obeyed, and harmony has prevailed everywhere except in the theatre of military conflict; while that theatre has been greatly contracted by the advancing armies and navies of the Union. Needful diversions of wealth and of strength from the fields of peaceful industry to the national defense, have not arrested the plough, the shuttle or the ship; the axe has enlarged the borders of our settlements, and the mines, as well of iron and coal as of the precious metals, have yielded even more abundantly than heretofore. Population has steadily increased, notwithstanding the waste that has been made in the camp, the siege and the battlefield; and the country, rejoicing in the consciousness of augmented strength and vigor, is permitted to expect continuance of years with large increase of freedom. No human counsel hath devised nor hath any mortal hand worked out these great things. They are the gracious gifts of the Most High God, who, while dealing with us in anger for our sins, hath nevertheless remembered mercy. It has seemed to me fit and proper that they should be solemnly, reverently and gratefully acknowledged as with one heart and one voice by the whole American People. I do therefore invite my fellow citizens in every part of the United States, and also those who are at sea and those who are sojourning in foreign lands, to set apart and observe the last Thursday of November next, as a day of Thanksgiving and Praise to our beneficent Father who dwelleth in the Heavens. And I recommend to them that while offering up the ascriptions justly due to Him for such singular deliverances and blessings, they do also, with humble penitence for our national perverseness and disobedience, commend to His tender care all those who have become widows, orphans, mourners or sufferers in the lamentable civil strife in which we are unavoidably engaged, and fervently implore the interposition of the Almighty Hand to heal the wounds of the nation and to restore it as soon as may be consistent with the Divine purposes to the full enjoyment of peace, harmony, tranquility and Union.

In testimony whereof, I have hereunto set my hand and caused the Seal of the United States to be affixed.

Done at the City of Washington, this Third day of October, in the year of our Lord one thousand eight hundred and sixty-three, and of the Independence of the Unites States the Eighty-eighth.

By the President: Abraham Lincoln

William H. Seward,
Secretary of State

Bibliografia:

http://www.history.com/topics/thanksgiving

http://showcase.netins.net/web/creative/lincoln/speeches/thanks.htm

Chocolate Quente


Chocolate quente, feito com pó de cacau de qualidade ou pedaços de chocolate meio amargo derretidos, é uma bebida que eu sempre adorei, mas quando mudei para Atlanta, onde faz frio de verdade, este delicioso líquido que, na minha opinião, tem o poder de aquecer a alma se elevou a patamares mais sofisticados.

Aqui, assim como no Brasil, temos as opções infantis que eu particularmente acho doces demais, mas com o detalhe charmoso dos pequenos marshmallows que são jogados na caneca sobre a bebida.
É claro que as crianças amam esse detalhe e quando chega o inverno eu abasteço a despensa com sacos de mini-marshmallows e logo cedo no café da manhã, antes das meninas saírem para a escola, eu coloco uma meia dúzia de mini-marshmallows no leite quente com Nesquik delas. Parece bobagem, mas elas acham esta uma das curtições do inverno aqui, e aos olhos delas este pequeno toque transforma o leite de todos os dias em chocolate quente, e elas se animam para enfrentar o frio matinal.

Agora, o chocolate quente que eu aprecio não tem nada de infantil. Gosto de usar cacau em pó ou barras de chocolate, e incrementar com um toque café e bebidas alcoólica, como um bom conhaque ou um licorzinho
de cacau. Hum, só de escrever já estou com água na boca.

No Brasil eu costumava usar o Chocolate em Pó Dois Frades da Nestlé, ou a barra de chocolate meio amargo, também da Nestlé. Aqui nos Estados Unidos porém, um novo universo se descortinou. As opções são muitas e maravilhosas. Entre os meus favoritos estão: o Ghirardelly Double Chocolate, o Godiva Dark Chocolate Hot Cocoa, e este ano o queridinho da casa é o recém descoberto Starbucks Hot Cocoa Classic. Todas estas opções, mesmo quando usadas simplesmente de acordo com as instruções da embalagem, que usualmente manda adicionar duas colheres de chocolate para uma xícara de leite quente, são divinas. Mas para aqueles dias que você está afim de uma indulgência especial, aqui vai uma receita incrementada, especialmente para adultos.

Em uma caneca misture uma xícara de leite integral, meia xícara de creme de leite fresco (eu disse que era uma indulgência especial), e ¼ de xícara de açúcar (para quem gosta bem docinho, se você preferir mais para o meio amargo duas colheres medidas de sopa bastam). Acenda o fogo e vá misturando os ingredientes até um pouco antes do ponto de fervura (cuidado para não entornar o leite). Apague o fogo e acrescente uma xícara de lascas de chocolate meio amargo (se você vive nos Estados Unidos, use bittersweet chocolate chips). Se não for dirigir, acrescente de uma a duas colheres de sopa de conhaque, misture bem, prove e ajuste o açúcar e o conhaque se precisar. Sirva em duas xícaras, acrescente chantili e pó de cacau para decorar. Se for dirigir substitua o conhaque por meia a uma colher de chá de extrato natural de baunilha.

Chocolate Quente a Beira da Lareira, Hum...

Num dia de frio congelante, nada como acender a lareira e desfrutar de uma bebida assim, que aquece até a alma. Se tiver boa companhia então, melhor ainda.

Halloween e Trick-or-Treat nos Estados Unidos

Gatinha Charmosa e Manhosa

Desde que cheguei aos Estados Unidos, um dos feriados que eu mais curto é o Halloween com sua tradição do “Trick-or-Treat”, que eu traduzo aqui livremente como “travessuras ou gostosuras”. Todos os anos, na noite do dia 31 de outubro, as crianças se fantasiam de fadas e princesas, super heróis, piratas e ciganos, bruxas e magos, personagens de filmes e de vídeo games, e até de m&m’s, sabe os docinho de chocolate cobertos de casquinhas coloridas tipo o confete brasileiro que na verdade é cópia do m&m, enfim, elas se vestem do que a imaginação delas desejar, e caminham pelos bairros batendo de porta em porta para ganhar doces, e até para levar alguns sustos de moradores mais empolgados.

Doces, muitos doces para presentear à criançada do bairro.

Eu costumo incrementar a decoração do outono para o Halloween.

Aqui, lá pela terceira semana de outubro, todos nós decoramos as frentes das nossas casas e abastecemos o hall de entrada com tigelas, ou caldeirões de bruxa, com doces variados. E no dia 31, Halloween, lá pelas 6:00hs da tarde a campainha começa a tocar. Os primeiros a chegar são os menores, e portanto os mais fofos. Pais e mães trazem as fadinhas, princesas e super heróis de dois aninhos pelas mãos, e até bebês de colo em carrinhos, vestidos de ursinhos e outras criações fofíssimas. Adoro ficar em casa recebendo as crianças que gritam animadíssima “twick-or-twit” e estendem suas sacolinhas decoradas esperando que eu lhes dê um doce. Conforme a noite avança as crianças que batem na porta vão ficando mais velhas até que lá pelas 9:00hs da noite só passam adolescentes, que chegam a beirar os 20 anos, fantasiados de zumbis, múmias e vampiros, e carregando fronhas de travesseiros enormes.

Pipoca, nossa cachorrinha fantasiada de dragão, pronta para ir "Trick-or-Treating" com as crianças. Se bem que parece mais que o dragão a engoliu.

Até os animais de estimação entram na dança. Estima-se que 15% dos americanos fantasiam seus cachorros e gatos.  Segundo especialistas do setor, este ano os americanos deverão gastar 370 milhões de dólares em fantasias para os bichinhos. Imagina se minhas filhas não me convenceram a comprar uma fantasia para nossa cachorrinha ano passado. Mas eu já disse que este ano ela usará a mesma.

Meu marido e eu nos dividimos. tradicionalmente ele anda pelo bairro com nossas filhas acompanhando um grupo grande de vizinhos com a criançada da nossa rua, e eu distribuo os doces daqui de casa. Tem gente que monta mesa na frente das casas com as tigelas de doces e fica vendo a garotada passando fantasiada na rua. Como eu curto ouvir o “Trick-or-Treat” fico dentro de casa mesmo. Além do que, para mim, o fim de outubro já é um gelo. E é uma farra quando o grupo das minhas filhas passa por aqui. Obviamente, todas as crianças do grupo acham que devem ganhar mais doces quando passam pela porta de uma das famílias delas, e claro que eu não decepciono, e elas saem saltitantes de alegria contando vantagem.

Turminha animada, pronta para "Trick-or-Treating".

Alguns adultos se fantasiam junto com as crianças. Eu costumo me vestir de preto e colocar um chapelão de bruxa. Meu marido também se veste de preto e usa uma capa longa sobre os ombros. São apenas detalhes, mas que adicionam um certo ar divertido, e a garotada adora.

Pirata contando seus espólios.

Quando minhas meninas voltam para casa, ao fim da longa caminhada, nós jantamos e daí elas se põe a contar e classificar seus espólios entre doces favoritos, os que elas gostam um pouco, e os que podem ficar para o papai e a mamãe. Eu imponho racionamento para, literalmente, evitar dores de barriga, e elas podem comer dois docinhos por dia. Quando a quantia que elas trazem para casa é absurda eu separo uma grande parte e faço uma doação ao trabalhadores da loja do Exército da Salvação mais próxima, que ficam realizados.

Isto tudo sem contar as festas, desfiles de fantasia, e peças de teatro organizados nas escolas. Onde minhas filhas estudam até os professores lecionam fantasiados no dia de Halloween, as crianças amam este feriado.

O Halloween marca o início das celebrações de fim de ano nos Estados Unidos, pois vem seguido do Dia de Ação de Graças em novembro, e Natal e Ano Novo em dezembro. É um tal de por e tirar decoração temática que haja disposição, mas não deixa de ser uma curtição, principalmente com a participação das crianças.

Mas de onde vem o Halloween?

Samhain Lady

Halloween tem suas raízes no “Samhain”, um festival celta pré-cristão, que era celebrado na noite do dia 31 de outubro. Os Celtas que viveram há 2.000 anos na região que hoje abrange a Irlanda, o Reino Unido e o norte da França, acreditavam que os mortos voltavam à Terra durante o Samhain. As pessoas se reuniam para acender fogueiras, oferecer sacrifícios e prestar homenagem aos seus mortos.

Durante algumas das celebrações dos celtas no Samhain, os aldeões se fantasiavam com roupas feitas de peles de animais para afastar os fantasmas visitantes. Banquetes eram preparados e deixados em mesas ao ar livre junto com mantimentos, como oferendas para aplacar os espíritos indesejáveis. Nos séculos seguintes, as pessoas começaram a se vestir como fantasmas, demônios e outras criaturas malévolas, pregando peças pelas vilas em troca de comida, bebida ou combustível para a fogueira da aldeia. Este costume, conhecido como “Disfarce” – fantasia, remonta à Idade Média e é considerado uma das origens do “Trick-or-Treat” – travessuras ou guloseimas.

As primeiras raízes cristãs e medievais do “Trick-or-Treat”

Twelfth-night (The King Drinks) by David Teniers the Younger - During medieval England the Yuletide, or Twelve Days of Christmas, was part of a much longer festival that began back on All Hallow’s Eve.

Por volta do século IX o Cristianismo se espalhou por terras celtas, onde gradualmente se mesclou com os costumes locais e acabou por suplantar velhos ritos pagãos. Em 1000 dC, a Igreja designou o dia 2 de novembro como o “All Hallows Day” – traduzido para o português como Dia de Finados, uma data escolhida para honrar os mortos. As celebrações do “Dia de Finados” na Inglaterra pareciam-se com as celebrações celtas de “Samhain”, completas com fogueiras e fantasias. As pessoas pobres visitavam as casas das famílias mais ricas e recebiam doces chamados “bolos da alma” em troca de promessas de rezar pelas almas dos parentes mortos dos proprietários. Conhecido como “souling”, a prática foi posteriormente retomada por crianças, que iam de porta em porta pedir presentes tais como dinheiro ou comida.

Na Escócia e na Irlanda, os jovens participavam de uma tradição chamada “guising”, da palavra inglesa “disguising”, que significa literalmente disfarce. Eles se fantasiavam e iam de porta em porta recebendo oferendas de várias famílias. Mas ao invés de prometer orações para os mortos, eles cantavam uma canção, recitavam um poema, contavam uma piada, ou realizavam outro tipo de “truque” antes de receber uma prenda, que normalmente consistia de frutas ou moedas.

A Malhação de Guy Fawkes

Na Noite de Guy Fawkes após muitas festividades, queima-se um espantalho que representa o traidor de coroa.

Outra raiz potencial do “Trick-or-Treat” é o costume britânico das crianças colocarem máscaras e carregarem efígies enquanto implorando por moedas de um centavo na Noite do Guy Fawkes (também conhecida como “Bonfire Night” – noite da fogueira), que comemora a frustrada “Conspiração da Pólvora” de 1605, a conspiração Católica tinha como objetivo explodir o prédio do parlamento inglês matando o rei protestante James I e seus parlamentares que estariam em seção, iniciando assim um levante católico. Em 5 de novembro de 1606, Fawkes foi executado por seu papel na tentativa de conspiração. No primeiro “Dia de Guy Fawkes”, celebrado imediatamente após a execução do traidor famoso, fogueiras comunais, ou “fogos de ossos”, foram acesas para queimar efígies de Fawkes assim como os simbólicos “ossos” do papa católico. No início do século 19, as crianças saiam carregando efígies de Fawkes pelas ruas na noite de 5 de novembro, pedindo trocados.

“Trick-or-Treat” nos Estados Unidos

Dependendo de que país Europeu vinham os colonos americanos, eles celebravam o “Bonfire Night” – Dia de Guy Fawkes ou o “All Hallows Even” – A Noite Antes do Dia de Finados. Em meados do século 19 o grande número de novos imigrantes, especialmente aqueles que fugiam da fome da batata da Irlanda na década de 1840, ajudou a popularizar o Halloween, pobremente traduzido para o português como o Dia das Bruxas. Halloween vem da contração Hallowe’en que por sua vez vem de “All Hallows Eve” noite antes do “All Hallows Day” – Dia de Finados.

No início do século 20, as comunidades irlandesas e escocesas reviviam as tradições do Velho Mundo, “souling” e “guising”, nos Estados Unidos. No entanto, esta tendência foi radicalmente reduzida com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, quando as crianças tiveram que interromper a prática por causa do racionamento de açúcar.

Após a Segunda Guerra Mundial a geração do baby-boom (literalmente uma explosão demográfica do pós-guerra) formada por milhões de bebês nascidos entre 1946 e 1964, retomou o “trick-or-treat” no Dia das Bruxas, que rapidamente se tornou uma prática comum para milhões de crianças nos subúrbios recém construídos das cidades americanas. Sem o racionamento de açúcar, empresas de doces capitalizaram com o ritual lucrativo, através do lançamento de campanhas publicitárias nacionais destinadas especificamente ao Halloween. Hoje, os americanos gastam cerca de 6 bilhões de dólares anualmente no Halloween, fazendo deste feriado nacional o segundo de maior sucesso comercial no país.

Peixe fora d’água

Essa foi minha primeira Olimpíada “consciente” que eu assisti morando no exterior. Digo consciente porque em 2008 meu filho ainda estava pequeno e eu tinha muitas outras prioridades além de ficar olhando esporte na televisão… desculpe, mas foi assim mesmo.

Mas nesses Jogos Olímpicos de Londres a situação foi outra. Meu filho, agora com quase 7 anos, de férias, fissurado em futebol e cheio de energia, pôde ficar muitas noites até mais tarde para ver os jogos. Se encantou com a natação (o que até o inspirou a tentar o nado borboleta no lago aqui perto de casa!), o atletismo, a canoagem, o hóquei, o levantamento de peso, cintando os que ele teve a oportunidade de assistir. Note que em nenhum desses esportes o Brasil conquistou medalhas ou era um forte candidato….

Dava-me gosto de vê-lo acompanhar e me chamar quando havia um brasileiro disputando e torcer pela nossa vitória, reconhecer a bandeira, os nomes… Mas há momentos em que a gente se sente mais expatriado do que nunca!

O que me fez sentir mais “peixe fora d’água” foi o fato de sempre querer ver algo diferente dos outros 80 milhões de pessoas que vivem aqui. Havia somente 2 canais televisionando os jogos que, obviamente – para eles, priorizava onde haviam alemães ou, pelo menos, europeus competindo. Então passei a semana inteira vendo atletismo e os fortões do levantamento de peso, enquanto o Brasil jogava vôlei de quadra e de praia, futebol, basquete, judô…

Conclusão: acompanhar, mesmo, só pelo App do celular!!!

Os únicos jogos do Brasil que assisti foi a final do vôlei de praia e do futebol! Os dois em que o Brasil perdeu… E ainda porque a final era contra um time europeu! Pensei que ia ser fácil… eles nem sabem jogar vôlei de praia… eles nem têm praia, cáspita! 🙂

Passada essa “revolta”, ontem assisti à festa de encerramento do evento. Comentários à parte – a festa foi mesmo de arrepiar – fui invadida por um orgulho e uma emoção imensa ao ouvir o Hino Nacional naquele estádio lotado, ao perceber que as pessoas de todas as nacionalidades e culturas estavam apreciando a pequena “introdução” ao que será daqui a 4 anos. O locutor dizia que já estava imaginando a Olimpíada no Brasil, que o nosso povo certamente vai garantir o alto astral para todos…

E na verdade, não menosprezando nossas qualidades de competição (nós tivemos excelentes surpresas em Londres e vamos caminhar mais ainda para frente), nosso maior talento é sermos o que somos: alegres, divertidos, musicais, excelentes anfitriões. Um povo que acolhe quem quer chegar e já o convida para sambar!

Eu já estou ansiosa por 2016! E quero fazer de tudo para viver essa emoção, no meu país!

Sua nudez não será castigada!

Viajar de férias é uma das melhores coisas a se fazer na vida. Seja para onde for, sempre há muito o que observar. Dessa vez vou compartilhar com meus leitores uma peculiaridade das praias espanholas que para mim, como brasileira, chamou muito a atenção: a nudez nas praias.

A primeira vez que fui à uma praia espanhola, há 4 anos, foi na ilha de Fuerteventura. A ilha tem inúmeras praias, algumas mais habitadas, outras desertas, algumas com ondas gigantes, outras com água calma e cristalina, como se fossem piscinas naturais. Um paraíso na Terra certamente.

Pois bem, escolhemos nossa praia de destino, arrumamos nossa tenda para um belo dia de verão na praia.. Quando olho em volta, uma porção de gente sem roupa! Homens e mulheres nus ou de topless à beira-mar. Eu conheço certas pessoas que essa situação causaria, no mínimo, um ataque de risos….

Não esperava ver nudez numa praia bem frequentada por pessoas não-nuas, mas enfim, depois de morar alguns anos na Alemanha ouvindo histórias sobre saunas mistas em família e vendo pessoas trocarem suas roupas de banho em pleno lago lotado à luz do dia, certas coisas não me deixam mais embaraçada.

Curtimos nossos dias de praia e nos deparamos algumas vezes com peladões e mulheres de topless, apesar de haver praias de nudismo na ilha. Pensei que a ilha paradisíaca inspirasse essa liberdade nas pessoas…

Dessa vez fomos à várias praias na Espanha continental, no litoral do Atlântico e no litoral Mediterrâneo. Fomos a praias de cidade e afastadas. Fomos de Guarujá-Pitangueiras à Ilha Bela na alta temporada, se é que você me entende… Praia de surfista, de “bicho-grilo”, de família, de solteiros, de gente que quer sossego. E em todas elas encontramos gente nua ou sem a parte de cima dos biquínis… Eu comecei a observar as pessoas que estavam nuas, não para olhar a nudez em si – afinal eu sei exatamente o que cada um tem – mas para descobrir que tipo de gente tem a coragem de mostrar seu corpo assim, pra todo mundo?

Descobri que eram pessoas como eu, como você, como minha mãe ou pai, ou avó, ou tia, ou tio, ou primo, ou prima…. Famílias chegam com seus aparatos de praia, as crianças pegam o baldinho e a pá para brincar, o pai vai jogar bola com o filhinho e a mãe, o que faz? Tira o sutiã!!! Normal, não? Deve ser uma sensação interessante estar sem sutiã num lugar onde há pelo menos 100 pessoas em volta que você nunca viu na vida…

A cena mais curiosa, pra não dizer engraçada, foi nosso primeiro dia em San Sebastián. Estávamos caminhando na praia a caminho do centro para jantar e, de repente, um homem peladão saindo do mar passa por nós. Era um homem de meia idade, barrigudo e peludo, na maior naturalidade.  E então ele se deita na areia, ao lado de um amigo, que não estava nem de roupa de banho, e começam a conversar: “Que banho de mar delicioso! Você viu a notícia do jornal de hoje?”. Imagine um brasileiro fazendo isso?

Como pode o espanhol ter uma relação com a nudez tão aberta e nós, o país onde todo mundo anda quase pelado no Carnaval e termos os menores biquinis do mundo, sermos tão conservadores? É uma questão que me deixa por vezes confusa. E é talvez por isso que os estrangeiros, melhor dizendo, os europeus acham que seria de se esperar que nós tivéssemos uma abertura maior em relação a isso.

Quem sabe da próxima vez eu me animo e entro na onda? Na Espanha minha nudez certamente não seria castigada…